*Débora Gallas Steigleder
Na quarta-feira passada, 13 de novembro, assisti ao evento Conexões Amazônicas, promovido por integrantes de diversos Programas de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que têm a Amazônia como interesse de pesquisa. Na ocasião, Ilza Girardi, Eloisa Loose e Jamille Almeida representaram o Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental e incentivaram os participantes a refletirem sobre a importância da construção de pontes entre o conhecimento científico e os saberes das comunidades tradicionais. Também destacaram a necessidade de, na atual conjuntura de desinformação, em que há circulação de informações imprecisas ou deliberadamente enganosas, contarmos permanentemente com produções midiáticas qualificadas para além de editorias específicas, que assumam o princípio da precaução frente aos conflitos e riscos ambientais.
Muito já falamos neste Observatório, antes e depois de as queimadas criminosas na floresta amazônica dominarem o noticiário, sobre o dever do jornalismo de abordar a crise ambiental como sistêmica, na qual se conectariam as escalas global e local. A mais recente reportagem de Eliane Brum, publicada em El País em oito de novembro, é um ótimo exemplo para pensarmos a contextualização da pauta frente a este cenário. Erro de projeto coloca estrutura de Belo Monte em risco transcende escalas ao tensionar passado e futuro: ao apontar equívocos estruturais desconsiderados pelo consórcio na construção de reservatório da usina hidrelétrica, Eliane destaca que a crise climática vai piorar a situação, pois a vazão do rio Xingu já é diretamente influenciada pela derrubada da mata para a expansão do cultivo de soja na região de Volta Grande do Xingu.
A reportagem é motivada pela seguinte questão elaborada pela jornalista: “como é possível que o projeto da maior hidrelétrica da Amazônia e uma das maiores do mundo não tenha contemplado o comportamento medido e documentado do rio Xingu?”. A transversalidade da pauta fica evidente quando as fontes consultadas remetem às relações políticas e econômicas que levaram à realização do projeto de Belo Monte e às consequências do empreendimento em dimensões diversas, desde a saúde de ribeirinhos e indígenas até a dinâmica de todo um ecossistema. Além disso, a busca de conexões com outras tragédias, como o rompimento de barragens de rejeitos de mineração em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, localiza a discussão temporalmente, pois estamos falando de projetos que materializam a ideologia capitalista vigente, do desenvolvimento a qualquer custo.
Eliane Brum mostra, portanto, que a busca por novas formas de contar histórias na Internet não precisa se afastar dos elementos que compõem uma boa reportagem ambiental em qualquer mídia: abordagem aprofundada, diversidade de saberes e preocupação com as condições de existência no planeta.