
Por Michel Misse Filho*
A eleição de 2022, definidora do futuro da democracia brasileira, colocou em cena também, entre tantos outros temas, a pauta socioambiental e a beira de um possível abismo. Se o futuro brasileiro aos votos pertence e o novo governo tem as credenciais para o tema, um recorte temporal apenas sobre as matérias da última semana indica o presente devastador em que estamos inseridos.
Na quinta-feira, 27/10, foi publicado o relatório anual de lacunas de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), e o diagnóstico é de um ínfimo avanço no sentido de redução das emissões até 2030, desde a COP26, de Glasgow em 2021. O relatório aponta que as novas metas climáticas submetidas pelos países permanecem insuficientes para preencher a lacuna de emissões, caso desejemos limitar o aquecimento do planeta aos 2ºC acordados em Paris, em 2015.
Se números, acordos e metas de emissão por vezes soam abstratos, as consequências são das mais concretas. Na quarta-feira, 26/10, um relatório da premiada revista The Lancet apontou um aumento de 68% na mortalidade relacionada ao calor, para pessoas acima de 65 anos. Além disso, o documento expõe o aumento de 29% em áreas do planeta afetadas por secas extremas, entre outras consequências da emergência climática que podem ser verificadas nesta matéria publicada pela Folha de São Paulo. Ainda sobre os efeitos do calor, no mesmo dia a UNICEF publicou o prognóstico de que, até 2050, todas as crianças devem estar expostas à alta frequência de ondas de calor. Outros detalhes sobre este relatório foram publicados também pela Folha, evidenciando um papel importante do jornal na informação da pauta climática.
O mundo assiste, preocupado, aos efeitos da crise climática e a inépcia de governantes, ao mesmo tempo em que observa, de longe e aflito, os desdobramentos das eleições brasileiras. A pauta do desmatamento é central, e ninguém menos que o New York Times publicou que a eleição brasileira irá determinar o futuro do planeta. Por fim, e fechando este sobrevoo pelas matérias da semana que passou, o STF formou maioria para determinar a reativação do Fundo Amazônia pelo governo federal em até 60 dias. A notícia é boa, mas mais importante são as escolhas que o governo eleito fará para gerir este e tantos outros recursos.
* Jornalista, doutorando em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). E-mail: michelmisse93@gmail.com.