A materialização das queimadas na economia: o jornalismo diante do boicote aos produtos brasileiros

Imagem – Captura de tela do Google
Por Eutalita Bezerra*

Nos últimos dias, desde os importadores de carne, couro e soja até gigantes fundos de investimento passaram a ter o Brasil como um país a não se investir, a menos que o governo tupiniquim apresente medidas para a proteção da Amazônia. Com o país como vilão do meio ambiente, o jornalismo tem se apoiado na sua principal muleta para tratar do meio ambiente, a Economia, para descrever o cenário. Nesse contexto, para o jornalismo, os boicotes surgem como a materialização do desmonte da economia brasileira frente ao mundo. E tais abstenções têm sido exploradas diariamente, com bastante fôlego, inclusive.

Uma breve busca por “boicote” nos leva a afirmar que cada passo que afasta o Brasil das grandes economias tem sido destacado pela imprensa nacional. O tom passa pelo já habitual catastrofismo, como o alerta lançado por El País ou aquele repercutido por O Globo passando pela negação do problema, conforme Correio Braziliense.

Seja como for, o fato de tornar palpável o problema, demonstrando de que maneira o Brasil é visto pela comunidade internacional quando abre mão de proteger a maior floresta tropical do mundo – e para a qual várias das grandes economias não negam ter seus olhos voltados – parece ser um caminho possível para acordar o Brasil para a necessidade de pressionar o seu governo. Ao que parece, a imprensa hegemônica, que durante anos esteve deitada em berço esplêndido, inclusive nos últimos governos -, os quais, não se pode negar, que pouco agiram para a proteção ambiental da Amazônia – começa a abraçar o discurso internacional sob pena de perda de dividendos ou mesmo de soberania.

As reportagens, muitas das quais extensas e devidamente complexas, fornecem informações importantes para a compreensão do tema. Falemos, por exemplo, da já citada incursão de El País sobre o assunto, intitulada “Boicote por crise dos incêndios na Amazônia chega ao mercado financeiro e acende alerta”. Apresentando o banco norueguês Nordea, que suspendeu a compra de títulos brasileiros após incêndios, a matéria traz um especialista da Fundação Getúlio Vargas atestando a importância da instituição financeira estrangeira, cujo nome não é, de fato, habitual nos noticiários brasileiros.

Também se preocupa em esclarecer que a responsabilidade ambiental, social e de governança tem sido uma questão importante para diversos fundos de investimento, o que pode indicar ao leitor que o boicote pode aumentar e chegar a outros investidores, estes ainda mais impactantes para o nosso país. Além disso, traz ainda multinacionais do setor agropecuário que já sinalizaram a abstenção ou a revisão da compra de produto brasileiro. E, por fim, mostra o presidente do Brasil dando as costas aos apelos mundiais dizendo que “a Europa não tem nada a nos ensinar”.

É deste tipo de incursão que falamos ao discutir complexidade. É tornar o assunto próximo do leitor, permitir que ele entenda o porquê de uma queimada cuja fumaça se dissipa longe dos seus olhos pode impactar a economia de todo o país, inclusive afetando a sua mesa e o seu bolso. É o jornalismo que desdobra as questões que são de interesse público e do público de que falamos. É ele que tem muito a nos ensinar.

* Jornalista, doutoranda em Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul com bolsa Capes. Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

Jornadas PPGCOM/UFRGS: o papel do jornalista diante dos conflitos ambientais

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O Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS), a linha de pesquisa em Jornalismo e Processos Editoriais e o Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) realizam, nos dias 16 e 17 de junho de 2016, jornada de estudos com o tema Jornalismo e Conflitos Ambientais. O evento ocorre no Auditório 1 da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Rua Ramiro Barcelos, 2705, Campus Saúde, Bairro Santana, Porto Alegre-RS). As inscrições, gratuitas, podem ser realizadas neste formulário.

Por meio de uma abordagem multidisciplinar, o encontro debate o papel social do Jornalismo para a democracia, considerando-o como um dos agentes no processo de comunicação de riscos e na cobertura dos conflitos ambientais. Entre os palestrantes confirmados, estão a repórter Jessica Mota, da Agência Pública, o pesquisador uruguaio e jornalista independente Victor Bacchetta, o professor Felipe Milanez, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano e colunista da revista Carta Capital, além de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria e UFRGS.

Os temas em discussão envolvem a conduta dos jornalistas e o interesse público frente aos conflitos ambientais, as especificidades teóricas do conceito de conflito ambiental e os dilemas acerca da mineração após o desastre ocorrido em Mariana (MG) no ano passado. Confira a programação completa a seguir. Para mais informações, entre em contato com a organização pela página do grupo no Facebook ou pelo e-mail pesquisajornalismoambiental@gmail.com

O Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental UFRGS/CNPq é coordenado pela professora titular da FABICO e do PPGCOM/UFRGS e Doutora em Comunicação Ilza Maria Tourinho Girardi. O grupo é responsável pela organização de eventos acadêmicos como o Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental, cujas edições mais recentes ocorreram em Porto Alegre no ano de 2014 e em São Paulo, em 2015.

Programação Completa, clique a seguir.

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Olhares sobre o Jornalismo Ambiental: retrospectos, consolidações e perspectivas após uma década de SBPJor

Durante o 11º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor, a Comunicação Coordenada Olhares sobre o Jornalismo Ambiental: retrospectos, consolidações e perspectivas após uma década de SBPJor, organizada pela Profa. Dra. Isaltina Gomes (UFPE), reuniu cinco trabalhos. Os pesquisadores, de diferentes instituições, apresentaram reflexões conjuntas pela quarta vez na SBPJor, a segunda com um tema gerador para todos os artigos. Em 2013, a inspiração foram os 10 anos de Congressos da entidade de pesquisa em Jornalismo. Confira os trabalhos apresentados, já publicados nos Anais do evento.

Ementa: Considerando os 10 anos de trajetória da Associação Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor), esta mesa coordenada que reúne interessados nas questões socioambientais atreladas às práticas jornalísticas busca fazer um retrospecto dos caminhos percorridos pelo Jornalismo Ambiental na última década, assim como avaliar aspectos que remetem a consolidações e desafios atuais. Os primeiros encontros desta associação permitiram que muitos dos pesquisadores deste grupo se conhecessem e discutissem sob outras óticas, temas e enfoques da relação existente entre jornalismo e meio ambiente, ampliando e refinando as reflexões sobre este objeto de interface. Com o amadurecimento das análises, grupos de trabalho emergiram e, desde 2010, busca-se unir os trabalhos voltados para os estudos do Jornalismo Ambiental a fim de qualificar o debate e avançar em novas abordagens e ângulos de investigação.

1. O diálogo teórico entre jornalismo ambiental e o campo das ciências sociais

Antonio Teixeira de Barros (Câmara dos Deputados)

2. A pesquisa em Jornalismo Ambiental na região Sul do Brasil 

Ilza Girardi (UFRGS); Angela Camana (UFRGS); Eliege Fante (GPJA);  Patrícia Kolling (UFMT); Carine Massierer (GPJA); Claudia Herte de Moraes (UFSM e UFRGS); Giovani de Oliveira (UFRGS)

3. Espaço do jornalismo e problemáticas socioambientais em encontros da Compós (2003 – 2013)

Isaltina Maria de A. M. Gomes; Jean Fábio B. Cerqueira; Diego A. Salcedo; Natalia M. Flores; Priscila M. Medeiros (UFPE)

4. Análise do desenvolvimento da produção acadêmica da Intercom em jornalismo e meio ambiente: apontamentos sobre os últimos 10 anos 

Myrian Del Vecchio de Lima; Eloisa Being Loose; Danielle S. Mei; Thaís Schneider; Valéria Duarte; Higor Lambach (UFPR)

5. Leituras conceituais sobre jornalismo e ambiente

Dione Oliveira Moura (UnB); Reges Schwaab (UFOP); Noêmia Félix da Silva (PUC-GO e UnB)

 

Uma homenagem a Adrian Cowell

Assista ao especial do programa Cidades e Soluções, da Globo News, sobre o valioso trabalho do documentarista Adrian Cowell na Amazônia. Entre seus importantes trabalhos está “A década da destruição”, série sem precedentes abordando o abuso de uma nação na região amazônica. Um documento importante produzido por André Trigueiro e equipe. Assista aqui.

Jornalistas ambientais são espécie em extinção?

Segundo o colunista do site Grist, Umbra Fisk, são. O Grist é um portal de notícias ambientais “com um toque de humor”, integrante do projeto colaborativo The Climate Desk. O Portal lançou uma campanha para arrecadar fundos para preservação dos jornalistas ambientais. Segundo Umbra Fisk, no início da década de 90 os jornalistas ambientais eram mais comuns. O passar dos anos não foi favorável para a espécie, frágil, que agora necessita de ajuda para não seguir sendo “capturada pelos céticos do clima”, por exemplo. O vídeo da campanha está a seguir. Saiba mais aqui.

(via @journalismnews)

Jornalismo na rede

Reprodução do site

Um dos debates da edição 2010 da Campus Party, na tarde de hoje, 27.01.10, reuniu opiniões sobre potencialidades e iniciativas de jornalismo na rede. Um dos convidados foi o jornalista André Deak, conhecido pelo trabalho em cobertura multimídia. Vale conferir a pauta que ele fez para a revista Revista Fórum, abordando o derramamento de agrotóxicos no Rio Paraíba do Sul (disponível aqui). É um ótimo exemplo de trabalho no cenário digital.

Conjugar  as  possibilidades que as diversas ferramentas oferecem, apostar na construção diferenciada das narrativas, no diálogo de vozes e na interação. Isso tudo é valioso para o debate que os temas da agenda socioambiental necessitam.

Aquecimento? Que aquecimento?, texto de Luciano Martins no OI

Recomendada a leitura do comentário de Luciano Martins, feito para o Observatório de Imprensa. Em foco as mudanças climáticas e a relação “esquizofrênica” do jornalismo com o tema, como ele mesmo classifica.

Leia na íntegra:  Aquecimento? Que aquecimento?

Cobertura de ciência: BBC quer verificar sua qualidade

Neste texto, a  BBC anunciou hoje uma análise da qualidade da sua cobertura de ciência. Um dos administradores do canal, Richard Tait, diz que há questões sensíveis em pauta atualmente, temas como as alterações climáticas e modificação genética, que exigem uma orientação para manter a “imparcialidade” diante da controvérsia. Em jogo, afirma, está a reputação da BBC, que conquistou lugar de destaque na cobertura dessa área. O relatório deve sair em 2011.

Via Ponto Media

Planet Green: conteúdo ecológico 24h?

O Planet Green, do Discovery, propõe conteúdos sobre atitudes ecologicamente corretas. São 24 horas de programação e seis linhas editoriais: moda e beleza; saúde e alimentação; casa; transporte e tecnologia; viagens; trabalho e atitudes. O projeto é ambicioso, mostra a potencialidade de traduzir as preocupações sobre sustentabilidade no cotidiano, guiar ações e discutir soluções concretas. Aumenta a quantidade de informação nessa área. Ao mesmo tempo, pode ser difícil não cair na conhecida armadilha da bela camada de tinta e algumas palavras empolgantes para tudo virar verde.