Eólicas: a distância da cobertura em relação aos sentimentos dos habitantes locais

Por Eliege Fante*

A descarbonização está na ordem do dia e na pauta político-econômica dos jornais. Os projetos em andamento em todo o litoral brasileiro (cobertura em epbr.com.br/) provenientes de empresas do Norte global, especialmente da Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Espanha, têm muito em comum: implantação de usinas eólicas para geração de energia renovável e limpa. Limpa, considerando-se a menor emissão de gases de efeito estufa, diferença favorável em comparação com a geração de energia termoelétrica a partir de combustíveis fósseis como o carvão. Entretanto, assim como ocorreu há alguns anos a respeito das hidrelétricas, a ciência e os movimentos sociais acumulam descrições, fatos e relatos dos impactos sobre o ambiente e as comunidades tradicionais e povos originários afetados.

Recentemente foram lançados dois documentários sobre os impactos na região Nordeste: Ventos do Delta, dirigido por Gelson Catatau e Ester Farache (assistir) sobre o Piauí  e, Vento Agreste, dirigido por João do Vale (assistir) sobre Pernambuco. Nesses estados, de modo semelhante ao que pode ocorrer no Rio Grande do Sul na região da Lagoa dos Patos, as áreas impactadas são remanescentes de biodiversidade e de modos de vida distintos como a pesca artesanal gaúcha (conferir parecer técnico). Portanto, riscos imensos pairam sobre o que ainda não foi devastado sob o paradigma econômico, e tem fundamental relevância para a conservação da fauna, da flora e para a sobrevivência de milhares de pessoas.

O governo gaúcho tem divulgado a participação em inúmeros eventos, como o recente em Rio Grande, onde poderia ter visitado uma comunidade de pescadores e escutado as diversas demandas ou minimamente esclarecido suas dúvidas. Há uma agenda para o mês de abril em Porto Alegre, porém sem a presença dos representantes locais dessas comunidades. Um estudo de viabilidade econômica parece ser o único feito pelo governo estadual, produzido pela Consultoria McKinsey Brasil e que foi citado neste evento do governo, porém o documento não foi disponibilizado para acesso público em PDF na página do Pró-clima 2050 que reúne as informações sobre os projetos de descarbonização. 

Uma rápida busca nos sites de alguns meios de comunicação jornalísticos no estado com a palavra-chave “eólicas” evidencia a distância da cobertura em relação aos sentimentos dos habitantes locais.  Exceto as cinco notícias deste ano publicadas pelo Brasil de Fato que informam também segundo a visão das fontes das comunidades. A mais recente do Correio do Povo repete o discurso do desenvolvimento social da região com esse tipo de energia renovável, exatamente o que as comunidades contestam. Essa repetição ocorre em Zero Hora e em O Sul. Chamou a atenção o grande uso de notícias provenientes de agências internacionais e ao menos uma de agência nacional em quase todos os sites.

SitesNotícias em 2023 arroladas pelo buscador
Brasil de Fato5
Correio do Povo3
Jornal do Comércio1
Matinal0
O Sul5
Sul210
Zero Hora5

De modo geral, a imprensa (não somente a gaúcha) tem repetido o discurso da descarbonização e do desenvolvimento sustentável do governo e das grandes empresas. Uma escuta ativa e daria-se conta de que descarbonizar a economia foi somente uma das recomendações do Painel Intergovernamental das Nações Unidas, o IPCC. As possibilidades para a mitigação e a adaptação aos efeitos das mudanças climáticas bem como a tentativa emergencial de deter o aumento da temperatura média da atmosfera dependem do diálogo entre todos os setores econômicos e grupos sociais. Sim, existem técnicas e tecnologias sociais locais aguardando a vez para brilhar no céu dos investimentos públicos. E, a pesca artesanal, por exemplo, representa uma significativa fonte de receita nos municípios de origem dos trabalhadores, o que permite afirmar que nem a cobertura econômica tem sido completa para uma leitura elucidativa do público diante de todas as implicações dos projetos em andamento para a dita descarbonização. 

Por fim, a estreita ideia de fontes jornalísticas em prática tem viabilizado a escuta predominantemente de fontes oficiais vinculadas ao poder hegemônico, obstaculizando a circulação de informações imprescindíveis a toda a sociedade. É o que ocorre com o silêncio diante das denúncias provenientes das próprias comunidades, movimentos sociais e de pesquisadores de universidades, quanto ao não cumprimento de acordos internacionais e regulações, principalmente da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, a OIT, que estabelece a consulta livre, prévia e informada aos povos originários e às comunidades tradicionais.

* Jornalista, mestra e doutora em Comunicação e Informação, membra do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental UFRGS/CNPq, editora da EcoAgência e Assessora de Comunicação da Rede Campos Sulinos.

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Quando há vontade política, há mitigação ambiental

Por Carine Massierer*

A vontade política pode não conseguir, sozinha, recuperar a destruição do meio ambiente ocasionada pelas mãos humanas, mas, com certeza, pode contribuir para a mitigação de danos ambientais. A decisão de editar um decreto para reconhecer estado de emergência climática em mais de mil municípios mapeados como mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas foi anunciada pela ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, ao visitar áreas atingidas por alagamentos em Manaus no dia 26 de março. Na capital do Amazonas, conforme registrado pela imprensa, as fortes chuvas fizeram com que 172 famílias ficassem sem acesso às suas casas. A postura da ministra gerou grande repercussão na imprensa, ao manifestar que o governo federal debate internamente decretar estado de emergência climática em cerca de 1.038 municípios mapeados como mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

Imagem: Captura de tela do site do Jornal do Brasilem 29 de março de 2023. Governo estuda decretar emergência climática permanente em mil cidades (jb.com.br)

A matéria foi publicada em periódicos impressos e online como o Jornal do Brasil, Gazeta do Povo, Correio Braziliense, Bem Paraná, assim como em empresas televisivas como o Canal Rural. O site de jornalismo independente, Headline, também destaca o anúncio da ministra, mas com um novo olhar (Quase 20% das cidades brasileiras podem entrar em estado de emergência permanente devido ao clima | HEADLINE), propondo uma ampliação da pauta e dando destaque ao decreto de estado de emergência permanente devido ao clima. O veículo aponta que não estão apenas sendo pensadas ações paliativas às consequências das mudanças climáticas, como tem acontecido em relação às estiagens em estados do Sul do país e às excessivas chuvas no Mato Grosso, Acre, Ceará e outros.

Na matéria do Headline, consta que o objetivo da medida seria permitir obras preventivas nos 1.038 municípios e que os projetos seriam de prevenção para médio e longo prazo.

Assim, vemos, na prática, que a repercussão na mídia mostra a importância da ação política com vistas à mitigação climática. Através de enfoques mais amplos e elaborados, a exemplo do Headline, identificamos que a pauta pode indicar, ainda, que não basta mitigar efeitos. Nesta linha, percebe-se que comunicação e jornalismo de qualidade podem contribuir para a clareza de que as mudanças climáticas estão aí e exigem a tomadas de atitudes urgentes e eficazes dos seres humanos.

*Carine Massierer é jornalista, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

Preocupação ambiental das populações: pesquisa compara países e temas

Imagem: Pixabay.

Por Michel Misse Filho*

Como medir a preocupação da população com questões ambientais — mais especificamente, as mudanças climáticas? Não é uma questão trivial, mas uma pesquisa da Ipsos Global Advisor realizada em 27 países, em junho de 2022, buscou responder. São duas as informações principais e que mais chamam a atenção: o Brasil está em penúltimo lugar entre os países cuja população trata o tema como prioridade, apenas à frente da Argentina; por outro lado, 77% dos brasileiros externalizaram preocupação com os impactos da emergência climática no país.          

Num olhar raso, o resultado pareceria contraditório. Não é. Acontece que a pesquisa mede — e a matéria publicada n’O Globo corretamente contextualiza isto —, num primeiro momento, a proporção de pessoas que trata as mudanças climáticas como assunto prioritário. Não surpreendentemente, os países que figuram no ranking dos mais desenvolvidos do mundo ficaram nas primeiras posições, com exceção da Índia, variando entre 20% e 31% dos entrevistados; o Brasil soma 4%, enquanto a média global foi de 16%. Embora numa análise mais especulativa do que assertiva, o que podemos interpretar do outro questionamento da pesquisa (em que três quartos dos brasileiros estão preocupados) é que a liderança de países do Norte Global não se trata apenas de uma questão “educacional”. A prioridade de preocupação com as mudanças climáticas é, por certo, relacional: países devassados pela alta da inflação, fome, crise econômica, violência etc. colocam a crise climática num segundo escalão — o que não significa, necessariamente, que a desprezem.

De qualquer forma, ainda que a ampla maioria dos brasileiros pareça preocupada com o tema, é preciso cada vez mais apresentar para a população a relação intrínseca entre as questões ambientais e os outros fatores, sociais, urbanos e econômicos, que afligem a população. A atuação contra as mudanças climáticas é, necessariamente, socioeconômica, e com impactos proporcionalmente maiores para os países e populações mais pobres. É aí que entra o papel da imprensa, como reiteradamente pontuamos neste Observatório, de não estar limitado à exposição factual dos acontecimentos e desastres ambientais, ou das longínquas reuniões políticas sobre o clima: é necessário que a conexão entre meio ambiente e a vida real das pessoas perpasse, inexoravelmente, a produção do jornalismo ambiental.

* Jornalista, doutorando em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). E-mail: michelmisse93@gmail.com.

Entre diagnósticos e projeções do IPCC, as múltiplas nuances da emergência climática

Imagem: Pixabay.

Por Michel Misse Filho*

A principal notícia deste mês de abril, no que tange à situação climática do planeta, foi a divulgação do novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima) da Organização das Nações Unidas. É apontada uma diminuição das chances de limitação do aumento da temperatura em 1,5ºC, cenário para o qual é necessário alcançar o pico de emissões até 2025 e cortá-las pela metade até 2030. O relatório do IPCC é um acontecimento tão científico quanto geopolítico e, divulgado sazonalmente, costuma ocupar um relativo lugar de destaque no noticiário dos grandes veículos de mídia.

Enquanto notícia, os fatos relatados pelas matérias costumam conter boa dose de informações climáticas, projeções de cenários, diagnósticos do problema — afinal, são estes os dados divulgados no âmbito do próprio IPCC. A matéria da Folha de S. Paulo sobre o acontecimento cumpre à risca seu papel e não se furta de elucidar, com clareza, as principais informações, causas e consequências que envolvem a emergência climática em curso. Já esta reportagem da BBC Brasil, publicada na última semana por portais como G1 e Folha de S. Paulo, também mobiliza uma interessante discussão científica em torno das novas tecnologias de “geoengenharia solar”: pesquisas que buscam mitigar o aquecimento do planeta a partir de técnicas como o lançamento de substâncias químicas na estratosfera, fazendo-as atuarem como barreira aos raios solares. Grande parte dos cientistas, todavia, alerta para o grave risco das técnicas, com consequências imprevisíveis para o planeta; reforçam o grau apenas paliativo do empreendimento; e criticam o deslocamento de atenção da raiz do problema, que é a imprescindível necessidade de redução da emissão de gases de efeito estufa.

O problema, no entanto, é que o emaranhado de outras dimensões que envolvem as mudanças climáticas — para além da reunião de cientistas e/ou políticos em organizações multilaterais — também necessita estar presente nas capas dos jornais e televisão. Se o objetivo deve ser o de informar a população para que, indiretamente, aumente a pressão da sociedade civil por medidas mais rigorosas de enfrentamento às mudanças climática, é preciso acionar as diversas nuances do assunto e envolver o público pelos múltiplos caminhos possíveis.

Um bom exemplo é esta matéria publicada pelo National Geographic Brasil, abordando “como o aquecimento global afeta a vida no Brasil”. A publicação envolve o já conhecido aumento de desastres naturais — e cita, por exemplo, as chuvas torrenciais que deixaram 233 mortos em Petrópolis (RJ) —, apontando para a mudança no padrão de chuvas nas regiões Sul e Sudeste, em especial. Também engloba as consequências diretas na saúde humana devido ao estresse térmico, bem como o aumento no custo de produção alimentícia e energética, e suas repercussões no aumento da desigualdade social brasileira.

A necessidade de envolver o público para as questões ambientais em suas diversas facetas é evidenciada, por exemplo, nesta coluna do portal Latinoamérica21, publicada na Folha de S. Paulo, sobre as “Contradições no mundo diante das mudanças climáticas”. Em suma, pesquisas de opinião apontam para um elevado grau de alerta das populações latino-americanas sobre as mudanças climáticas em relação ao resto do mundo; ao mesmo tempo, apesar de alertas, também são estas as mais otimistas quanto à resolução dos problemas. Chama mais a atenção, no entanto, a alta ênfase dada à responsabilização do indivíduo para solucionar as mudanças climáticas: nove em cada dez latino-americanos acreditam que suas ações pessoais fazem a diferença (mais do que a média de países desenvolvidos) e 40% das classes média e média baixa brasileira veem no indivíduo uma responsabilidade maior pela sustentabilidade do que nos governos e empresas.

Embora sem diminuir a importância da conscientização em nível individual, o foco somente nesta instância pode desestimular a pressão popular e a fiscalização dos grandes agentes poluidores. É também nesta direção que deve caminhar o jornalismo, em seu papel de descortinar as muitas variáveis que orbitam as questões socioambientais.

* Jornalista, doutorando em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). E-mail: michelmisse93@gmail.com.

O raso debate sobre veganismo

Imagem: IPEAS Report – The Politics of Protein, 2022

Por Matheus Cervo*

Nas últimas décadas, o debate sobre os impactos do consumo de carne tem avançado para mostrar que a escolha em aderir uma dieta vegana vai muito além de optar pela libertação animal.

Segundo a FAO-ONU, o consumo de carne vermelha gera 14,5% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e é responsável por inúmeras infrações trabalhistas nos setores frigoríficos. Além disso, mais de 60% das doenças infecciosas humanas são causadas por agentes patogênicos partilhados com animais selvagens ou domésticos. Por isso, são utilizados antibióticos de forma excessiva na indústria da carne, o que contribui enormemente para o surgimento de agentes resistentes aos mesmos.

Os impactos são ainda mais gritantes quando pensamos de forma sistêmica e percebemos que esse tipo de produção gera desafios críticos à sustentabilidade, como perda de biodiversidade, poluição química, degradação da terra, dificuldade de manter um meio de subsistência e pobreza nutricional nas dietas familiares. Não é trivial notar dados alarmantes que mostram que 80% das terras agrícolas globais são destinadas à produção de soja e milho para fabricação de ração, algo que é extremamente ineficiente para resolver o problema grave da insegurança alimentar.

Ainda assim, existe uma quantidade enorme de matérias jornalísticas que não se comprometem em buscar fontes sérias, gerando desinformação e rejeição sobre o tema. Como exemplo disso, o Metrópoles publicou uma matéria chamada “Entenda por que alguns vegetarianos e veganos voltam a comer carne”. A escrita traz posições de nutricionistas que ainda não se atualizaram no debate científico, já que falam que veganos tendem a voltar a comer carne por ficarem subnutridos (pela suposta falta de proteína) ou por perceberem que estavam em um “surto” por pressões sociais absurdas. Por fim, traz uma série de argumentos de psicólogos para legitimar o processo de reconversão a uma dieta com carne, uma vez que esses profissionais da saúde afirmam a necessidade de autoconhecimento para se “desvincular de crenças que geram sofrimento”.

Um meio que faz um trabalho muito mais sério é O Joio e O Trigo, um projeto de jornalismo investigativo sobre alimentação, saúde e poder. Recentemente, publicaram uma matéria sobre o crescente mercado das caríssimas “carnes vegetais” industriais. Logo de início, partem de inúmeras fontes de informação que pautam a importância do debate sobre a mudança alimentar, como o relatório do Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPES-Food), que foi publicado no dia 6 de abril de 2022. Contudo, é com base nesse relatório que a matéria mostra que as soluções não são simples e que muitas alternativas industriais como as mencionadas não são sustentáveis e, inclusive, são patrocinadas pela própria indústria da carne.

O texto termina como uma aula ao jornalismo que se debruça ao veganismo e às mudanças alimentares, já que traz um discurso de que esse debate sobre carnes e proteínas precisa de uma dimensão antropológica. Ou seja, se sabemos que a redução ou a eliminação dos produtos de origem animal são necessárias, precisamos fazer esse debate junto da diversidade cultural de práticas para e com a natureza, com agricultores familiares, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e mesmo grupos urbanos em situação de insegurança alimentar. Não se trata de criar matérias repudiando ou adorando o veganismo, mas, sim, de o debater de forma societária e complexa.

* Graduado em Ciências Sociais, mestre em Comunicação e atual doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Incêndios florestais em pauta

Mapa de perda de floresta devido ao fogo vs. outros fatores entre 2001 e 2019 (Foto: Alexandra Tyukavina, Peter Potapov, Matthew C. Hansen, Amy H. Pickens, Stephen Stehman, Svetlana Turubanova, Diana Parker, Viviana Zalles, André Lima, Indrani Kommareddy, Xiao-Peng Song, Lei WANG, and Nancy Harris). Fonte: Reprodução da notícia publicada em Galileu

Por Leticia Menezes Pasuch*                                                 

A realidade da crise climática, que aumenta de forma global, é uma pauta recorrente na mídia, sobretudo diante dos seus impactos. Publicada no site da Revista Galileu no dia 16 de março de 2022, a notícia “Incêndios causaram perda de um terço das florestas do planeta” traz um estudo tecnológico inédito sobre as tendências globais de perdas florestais, divulgado no periódico Frontiers in Remote Sensing, que publica pesquisas associadas a ciência e tecnologia.

A matéria levanta questões importantes e de interesse público referentes à situação das queimadas nas áreas florestais e sua proporção global entre 2001 e 2019 – sendo maior do que o estimado, além de mencionar o Brasil e as recentes queimadas na Amazônia, que chamaram a atenção dos pesquisadores. É apresentado o mapa produzido pelos autores, ilustrando em clara resolução as regiões que tiveram perda florestal e facilitando a visualização de quais áreas foram perdidas pela queimada ou por outros fatores e onde ainda não houve perdas.

No entanto, o conteúdo do texto se limita à reprodução dos dados da pesquisa, oferecendo pouca contextualização da temática que a envolve. Também não ouve muitas fontes, trazendo apenas declaração de uma das autoras do trabalho. A matéria não aponta a relação desses fenômenos com as ações humanas, que provocam, em maior parte, os incêndios florestais, além de não aprofundar esses danos à biodiversidade e aos ecossistemas.

De acordo com Wilson Bueno (2007a, p.18), com uma cobertura jornalística ambiental fragmentada, “o cidadão muitas vezes tem dificuldades para entender a amplitude e a importância de determinados conceitos e vislumbra o meio ambiente como algo que lhe é externo”, dificultando o entendimento do seu papel nessa atmosfera ambiental. Isso não auxilia na compreensão, nesse caso, dos motivos pelos quais os incêndios florestais ainda acontecem, quais são as consequências acarretadas pelas queimadas – como a emissão de gases do efeito estufa, mencionada no estudo – e, principalmente, o que pode ser feito para reverter tal situação e qual é a importância da participação dos setores público e privado no combate aos incêndios florestais.

A matéria negligencia o debate da emergência climática, inserindo apenas uma breve menção, no último parágrafo, de que o mapa apresentado “deve ser utilizado como ferramenta para fazer a gestão florestal e auxiliar no desenvolvimento de políticas globais e programas de conservação e modelagem climática”. A sua publicação foi feita no Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas e, no dia anterior (15), o mesmo veículo publicou outra notícia sobre um relatório que aponta consequências do aquecimento global nas américas até 2050, igualmente limitada e orientada para uma perspectiva catastrófica, trazendo dados científicos sem contextualizar a repercussão do estudo e ainda recorrendo ao sensacionalismo, uma das síndromes do jornalismo ambiental apontadas por Bueno (2007b).

Ao contrário, a cobertura dos incêndios, conforme o jornalismo ambiental, deveria ser comprometida com a mudança de paradigmas, enxergando além das aparências (BUENO, 2007a) e trazendo as pautas ambientais de forma ampliada, de modo a visibilizar as ações necessárias para lidar com catástrofes. A imprensa não poderia se eximir do papel educativo, colocando as informações necessárias e corretas à disposição da sociedade, que poderá tomar suas decisões diárias conectadas com a construção de uma vida sustentável (GIRARDI; LOOSE; BAUMONT, 2011).

Referências:

BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, Jornalismo e Meio Ambiente: teoria e pesquisa. São Paulo: Majoara, 2007a.

BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Ambiental: explorando além do conceito. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 15, 2007b. pp. 33-44.

GIRARDI, Ilza; LOOSE, Eloisa; BAUMONT, Clarissa (orgs.) Ecos do Planeta: Estudos sobre Informação e Jornalismo Ambiental. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011.

*Aluna da disciplina Jornalismo e Meio Ambiente da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: leticiampasuch@gmail.com.

Cobertura sobre Atafona: para pensar além da destruição

Imagem: Reprodução da notícia analisada – Ruínas de casa na Praia de Atafona, engolida pelo mar. Erosão transforma paisagem em cenário apocalíptico Foto: Mauro Pimentel/AFP

Por Valentina Bressan*

Em 14 de fevereiro de 2022, foi publicada no portal online do jornal O Globo
uma notícia sobre o balneário de Atafona, que fica na cidade de São João da Barra, no Rio de Janeiro. O mote da matéria é que a água do mar está avançando rapidamente sobre a costa, destruindo as casas no litoral.

Embora a notícia traga pontos interessantes e de interesse público, muito do conteúdo da matéria recai nos clichês de um jornalismo que pode pretender-se ambiental, mas ainda não chega a ter o “caráter revolucionário” proposto por Wilson Bueno (2007, p.17). O sociólogo John Hannigan afirma que “a cobertura ambiental dos meios de comunicação social é, em larga medida, limitada e moldada pelas mesmas limitações de produção que governavam o trabalho noticioso em geral” (2000, p.87).

Na matéria d’O Globo, a apuração e redação não foram feitas por um repórter próprio do veículo, mas por uma correspondente uruguaia da Agence France-Presse (AFP). Deslocar o repórter até Atafona seria, certamente, mais custoso economicamente do que contratar uma agência noticiosa.

O segundo ponto, que fala sobre o espaço do portal destinado ao jornalismo ambiental, é a editoria. No site d’O Globo, a matéria está dentro da editoria “RIO”. Isso não é necessariamente negativo, já que, segundo Eduardo Gerarque (2018), é preciso que o Jornalismo tenha uma visão sistêmica, transversal dos assuntos ambientais. Contudo, por outro lado, isso também diz muito sobre o “não-lugar” que o tema, muitas vezes, ocupa na mídia tradicional.

Quanto ao enquadramento, a frase da linha fina, “Devido a uma combinação de fatores naturais e humanos, o mar avança até 6 metros por ano […],  evidencia o foco dado ao tema ao longo da matéria. Nos moldes do que aponta Carlos Walter Porto-Gonçalves (2004), é feita uma separação entre homem e natureza. Essa oposição entre cultura e natureza fica aparente: é o mar quem é capaz de destruir casas, de engolir o balneário.

No lide, a notícia traz o fato de que o aquecimento global é responsável pela intensificação da erosão no litoral de Atafona, porém as informações são superficiais: o uso que o homem fez da água nas últimas décadas e a construção de casas, que eliminou as dunas e a vegetação. Entretanto, o
aquecimento global é desconectado das “causas humanas”, como se este não fosse também intensificado pelas ações das pessoas.

A situação do balneário é descrita como apocalíptica, incomum e, embora os critérios de noticiabilidade do Jornalismo orientem para o novo e o improvável, esta abordagem não é a ideal para o Jornalismo Ambiental, pois não dá conta de conectar os acontecimentos com os contextos sociais.

Ainda que sejam consultadas múltiplas fontes de informação, não há um aprofundamento das causas e consequências, impedindo que haja uma ligação entre os aspectos locais e globais. Em vez disso, a notícia fica focada no “sal da cobertura noticiosa”, como afirma Hannigan: os danos e as perdas humanas, mas que não trazem a contextualização esperada para compreendermos a complexidade dos fatos ambientais.

* Aluna da disciplina Jornalismo e Meio Ambiente da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: val.bressan@gmail.com.

Patrimônio material e imaterial em Ouro Preto na cobertura jornalística

Imagem: Deslizamento do Morro da Forca que destruiu um casario histórico em Ouro Preto. 
Fonte: Redes Sociais, autor(a) desconhecido(a).

Por Matheus Cervo*

Os extremos climáticos na América do Sul se tornam cada vez mais parte do nosso cotidiano. Logo após a passagem de 2021 para 2022, tivemos a presença de uma grande onda de calor no sul do continente e fortes chuvas registradas em Minas Gerais e na Bahia – fenômenos que não podem ser desconectados do colapso climático que segue em curso.

Não é surpresa que esses extremos estejam atingindo parte do nosso patrimônio histórico e social, visto que isso tem acontecido de forma cada vez mais agressiva. Como mais um evento desse tipo, o aumento das chuvas em Minas Gerais causou a destruição de um casario histórico no Morro da Forca em Ouro Preto devido a um deslizamento de terra no dia 13 de janeiro. Com isso, uma parte do jornalismo brasileiro se debruçou sobre o ocorrido para discutir a situação da memória brasileira frente a esses fenômenos climáticos.

O G1 fez uma matéria chamada “Patrimônio Mundial da Humanidade, Ouro Preto convive com áreas de risco e danos ao casario histórico”. Ela se destaca por ter buscado especialistas de diferentes áreas para entender não só a destruição em si, mas o que pode ser feito para que se tenha um resguardo das edificações históricas do nosso país. Entre eles, foram mencionadas falas de uma professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do departamento da Arquitetura e do Urbanismo, explicações de um geólogo e estudos sobre áreas de risco do Serviço Geológico do Brasil/CPRM. Além disso, tentaram entrar em contato com a administração municipal de Ouro Preto e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), assim como trouxeram alguns dados antigos para mostrar que os deslizamentos de terra e as perdas ao patrimônio não são novidades nessa cidade.

O evento causou tanta comoção aos profissionais que se preocupam com a questão da memória que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) se pronunciou com uma nota no dia 14 afirmando que foi uma grande perda para toda a humanidade – o que foi resumido e noticiado pelo jornal O Estado de São Paulo. Essa grande mobilização da organização internacional se deve ao fato de Ouro Preto ser a primeira cidade brasileira inscrita na década de 1980 na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, sendo uma cidade que é monitorada pelo Centro do Patrimônio Mundial. Não é trivial salientar que a diretora ressaltou que medidas protetivas são ainda mais importantes em meio ao avanço das mudanças climáticas, o que foi noticiado pelo Estadão.

Percebe-se que, até aqui, cumpre-se com a necessidade de buscar pela complexidade dentro do jornalismo, especialmente nessa imbricação de áreas que estudam as questões ambientais relacionadas com a preservação do patrimônio nacional. Contudo, ainda dentro da discussão sobre memória e sociedade, é possível dizer que a cobertura desses fatos carece de uma discussão mais aprofundada acerca do patrimônio imaterial que se refere às sociabilidades e modos de vida existentes nesses locais. Depois desse evento que foi seguido de alguns outros deslizamentos noticiados, surgiram diversas matérias afirmando que Ouro Preto tem mais de 300 áreas de risco, sendo que 882 residências estão nessas regiões. Saíram notícias mostrando que 80 famílias foram removidas do bairro Taquaral e diversos serviços foram evacuados como forma de precaução.

Por isso, como o jornalismo ambiental poderia noticiar esses desastres ao patrimônio brasileiro sem prezar somente pelo material? Não seriam as formas de sociabilidade e as construções históricas de modos de vida específicos desses locais patrimônios imateriais tão importantes quanto as edificações? Não seriam elas também formas tão importantes de resguardo quanto a materialidade da nossa memória brasileira? São essas questões que ficam pungentes para aprofundamento dessa discussão sobre o que realmente é o patrimônio mundial da humanidade e como o jornalismo (assim como organizações como a Unesco) poderiam ter uma noção mais abrangente de como a memória se mantém viva na sociedade através das suas dimensões imateriais.

* Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da mesma universidade.

As mudanças climáticas em pautas sobre as enchentes na Bahia

Crédito: Isac Nóberga / PR. Fonte: Agência Brasil.

Por Débora Gallas Steigleder*

Estudos de integrantes do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental sobre a cobertura ambiental no Jornal Nacional no ano de 2019 identificaram a ampliação e transversalização das pautas sobre meio ambiente no telejornal em relação a anos anteriores. A maior recorrência de temas ambientais nas edições do principal produto jornalístico da TV Globo pode ser explicada por dois fatores frequentemente sobrepostos: o desmonte das políticas públicas de proteção ambiental a partir da posse de Jair Bolsonaro como presidente e o aumento de ocorrências de tragédias de grande envergadura. A busca por explicações e soluções para os impactos dos fenômenos percebidos, no entanto, ainda fica em segundo plano. Após mais de dois anos, é possível perceber que este padrão se mantém na cobertura sobre as fortes chuvas que vitimam e vulnerabilizam cerca de 700 mil pessoas no sul da Bahia ao longo deste mês de dezembro.

Quando o acontecimento irrompe, os esforços de cobertura são direcionados para captar o drama humano. A contextualização da tragédia a partir dos locais mais afetados envolve o telespectador: nas edições dos dias 28 e 29 de dezembro, a situação na Bahia ganhou destaque na programação, com mais de sete minutos em tela. A abordagem de JN chamou à reflexão ao destacar que Jair Bolsonaro decidiu não interromper suas férias no litoral de Santa Catarina para se envolver nas ações do governo federal a fim de amparar da população afetada. Também chamou o público à ação quando coloca em pauta as redes de solidariedade que se formam em todo o Brasil para auxílio no resgate e na sobrevivência daqueles impactados durante o dezembro mais chuvoso dos últimos 32 anos na região.

Porém, uma cobertura realizada a partir de olhar complexo, de acordo com os pressupostos do jornalismo ambiental, deve se debruçar igualmente sobre as causas dessas tragédias, ainda que as consequências sejam visualmente mais impactantes e, portanto, tenham maior valor-notícia. Embora no discurso das fontes oficiais a expressão “desastre natural” seja recorrente, o jornalismo precisa incorporar a contextualização sobre o aumento dos eventos extremos como consequência das mudanças climáticas.

Este entendimento existe, mas ainda é periférico na mídia brasileira. Ao longo da semana, portais de notícias replicaram reportagens com explicações científicas que conectam as enchentes na Bahia à emergência climática, produzidas por veículos de abrangência internacional como RFI e BBC News Brasil. Em 28 de dezembro, Jornal Nacional chegou a exibir reportagem aprofundada sobre o agravamento dos desastres causados pelas chuvas diante da falta de planejamento das cidades brasileiras.

Trata-se de uma conexão necessária para que o público consiga compreender a relação de causa e consequência que envolve tais fenômenos; porém, poderia ser ainda mais detalhada com a incorporação da crise climática como plano de fundo, já que reconhecer sua inevitabilidade e a frequência cada vez maior dos eventos extremos implica em envolver a opinião pública nos debates sobre medidas de enfrentamento às mudanças do clima. De quebra, também fortalece o debate sobre a responsabilidade dos governantes que permanecem inertes diante do caos.

Referências
GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; LOOSE, Eloisa Beling; STEIGLEDER, Débora Gallas. Ampliação e transversalização da pauta ambiental no Jornal Nacional. Comunicación y cambio climático: contribuciones actuales. Sevilha: Ediciones Egregius, 2020. p. 15-33. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Eloisa-Beling-Loose/publication/348815171_AMPLIACAO_E_TRANSVERSALIZACAO_DA_PAUTA_AMBIENTAL_NO_JORNAL_NACIONAL/links/601196e8a6fdcc071b9936a1/AMPLIACAO-E-TRANSVERSALIZACAO-DA-PAUTA-AMBIENTAL-NO-JORNAL-NACIONAL.pdf.

GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; STEIGLEDER, Débora Gallas; LOOSE, Eloisa Beling. Novos rumos da cobertura ambiental brasileira: um estudo a partir do Jornal Nacional. TraHs: Revista Trayectorias Humanas Trascontinentales, Limoges, n.7, p. 47-62, 2019. Disponível em: https://www.unilim.fr/trahs/2054#tocto1n3.

*Jornalista, doutora em Comunicação e Informação. Integrante do GPJA.

Defronte mitos e farsas do negacionismo climático, o jornalismo

Imagem: Captura de tela de notícia da BBC Brasil.

Por Mathias Lengert*

Apesar do aquecimento global ser um consenso científico, campanhas de desinformação disseminam desconfiança e conteúdos imprecisos com êxito. É o que aponta uma sondagem realizada durante a COP26 pelo Institute for Strategic Dialogue (ISD). O monitoramento do think thank britânico verificou que páginas negacionistas do clima no Facebook obtiveram engajamento 12 vezes superior ao de fontes especializadas, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Além disso, perfis negacionistas foram significativamente mais atuantes na rede social durante o evento. Anteriormente, este observatório já discutiu a responsabilidade editorial de veículos de comunicação ao acolherem, sem constrangimento, colunistas que minimizavam as conclusões do relatório do IPCC. Agora, nos questionamos como o jornalismo pode lidar com episódios de desinformação climática.

Trata-se de um fenômeno mobilizado por diversos atores sociais que operam ativamente, entre outras formas, em duas frentes: nas mídias sociais digitais, realizando disparos de notícias falsas, e a partir do lobby de instituições, financiadoras de um número ínfimo de pesquisadores que defendem a hipótese que nega o impacto antrópico no clima.

A checagem de fatos, em contrapartida à primeira frente, é um procedimento que ratifica a veracidade das informações e adverte suas eventuais inconsistências. Na ocasião da conferência do clima, o Estadão alertou para postagens em redes sociais que disseminavam dúvidas sobre a intervenção humana no aquecimento do planeta e ataques à ativistas ambientais. Ainda que seja uma prática imprescindível, a checagem de fatos é uma medida pontual que deve ser correlata a uma cobertura jornalística contínua e engajada, capaz de promover conexões entre o aquecimento global e o contexto local do público.

Em paralelo às notícias falsas, o lobby de determinados segmentos da sociedade busca descredibilizar as evidências científicas sobre o fenômeno. É o caso de alguns setores do agronegócio e da ala militar reacionária. Esse é um dos destaques da investigação jornalística da BBC Brasil, que noticiou que esses grupos financiaram palestras de dois conhecidos pesquisadores negacionistas, Ricardo Felício e Luiz Carlos Molion, que afirmam, entre outras frases sem embasamento científico, que “o aquecimento global é uma farsa, é um mito” e que a redução de emissões é “inútil”. Esses mesmos adjetivos, coincidentemente, foram amplamente usados por perfis negacionistas do Facebook para descredibilizar a COP26, conforme a sondagem do ISD. O movimento, portanto, repete tais chavões como estratégia de minar os esforços de combate ao aquecimento global e semear dúvidas na sociedade.

O jornalismo, como bem exemplifica a reportagem da BBC, deve desvelar o negacionismo, apurar as fontes de custeio e estimular um debate amplo e crítico quanto aos interesses econômicos destes segmentos ao minimizarem ações de enfrentamento ao fenômeno. Embora a desinformação climática exija uma responsabilidade que excede o jornalismo, cabe registrar que este tema perpassa um esforço cotidiano dos profissionais do campo. Aprimorar o caráter educativo jornalismo, em especial, é fundamental para qualificar a pauta e conscientizar o público contra o negacionismo climático.

*Mathias Lengert é jornalista, mestrando em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e integrante do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).