Greenwashing na indústria madeireira: jornalismo é essencial para denúncia

Imagem: Captura de tela do Internacional Consortium of Investigative Journalists

Por Mathias Lengert*

Organizações responsáveis por certificar a origem sustentável da madeira, na prática, validam produtos provenientes de desmatamento. Essa é uma das graves denúncias reveladas pelo Deforestation Inc., uma investigação primorosa liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) em colaboração com 39 organizações jornalísticas de diversos países, três delas brasileiras: Poder 360, Revista Piauí, e Agência Pública.

A apuração revela que, apenas no Brasil, pelo menos 62 empresas certificadas pelo Forest Stewardship Council (FSC) concentradas na Amazônia Legal foram autuadas pelo Ibama. Os selos de auditores ambientais, como o FSC, agregam valor ao produto e possibilitam a exportação para mercados exigentes, como os europeus. No entanto, conforme a investigação, ao todo 48 organizações de certificação ambiental falharam em reconhecer crimes durante a averiguação das práticas socioambientais responsáveis.

Com a certificação em mãos, empresas com histórico de infrações ambientais em todo o mundo denominam-se sustentáveis, quando, na verdade, atuam sem comprometimento com a causa ambiental, configurando um caso exemplar de greenwashing (lavagem verde, em tradução livre).

A investigação publicada pelo ICIJ mostra que o jornalismo tem a responsabilidade de identificar e denunciar ocorrências de greenwashing. Isso implica em investimentos jornalísticos de fôlego, exigência de maior transparência de dados e informações das empresas e alfabetização ecológica do público, aproximando o leitor do conceito e auxiliando-o a identificar práticas enganosas.

Durante nove meses de apuração, os repórteres trabalharam em diversas frentes, analisando processos judiciais, dados de inspeção e registros de violação ambiental. A atuação colaborativa suscita reportagens com olhares mais abrangentes, capazes de promover conexões de problemas ambientais globais com os impactos locais. O consórcio é uma ferramenta potente por partilhar um senso colaborativo de fazer jornalismo, amparado na troca de conhecimentos e na verificação cruzada das informações.

Resta a necessidade de esforços exaustivos de contextualização desses dados para o público. O greenwashing é um fenômeno de disfarce da degradação ambiental e de construção de uma imagem pública falsamente positiva, que nem sempre é identificado pelo jornalismo, especialmente ao dar destaque para empresas em notícias sobre meio ambiente sem verificar se seus processos produtivos são, de fato, responsáveis. Em síntese, é essencial que o jornalismo desempenhe um papel crítico e posicionado na sociedade, questionando os impactos de empresas infratoras e a atuação dos órgãos de regulação, e educando o público sobre a relevância do tema.

* Mathias Lengert é jornalista, mestre em Comunicação e integrante do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

 

 

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s