
Imagem: Isabelle Rieger/Sul21
Por Daniela Neves* e Caroline Fraga **
Fortes chuvas voltaram ao Rio Grande do Sul nesta semana, reforçando a importância de discutir a gestão ambiental e preventiva dos municípios e do governo. A uma semana das eleições municipais, é possível fazer uma análise de como um dos principais periódicos do Estado, o Zero Hora, pautou o tema das enchentes associado com as eleições.
Esta análise é feita dentro do conceito de agenda setting (Traquina, 1995) que indica a forma com que a mídia tradicional agenda alguns temas, em detrimento de outros. Os estudos de definição de agenda midiática partem do princípio de que, quando o assunto é pautado, ajuda a despertar interesse nas questões salientadas pela mídia (Brasil e Capella, 2015).
Como pesquisadoras que acompanham a interface das eleições com o clima, no âmbito do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental, analisamos as edições impressas entre 16 de agosto, início oficial da campanha, e 23 de setembro, em um total de 39 dias. O foco foi observar como a questão climática e a repercussão do desastre que eclodiu em maio em Porto Alegre aparecem na cobertura das eleições municipais.
Nas edições da primeira semana de campanha, o periódico não produziu material que relacionasse as eleições à enchente. Porém, na segunda semana, a partir de 25 de agosto, o tema apareceu na fala dos candidatos. Na edição do dia 25, em publicação que relatava a campanha de rua dos prefeituráveis, o texto cita uma fala do atual prefeito Sebastião Melo (MDB) dizendo que a atual gestão não poderia ser “a única responsável pelo sistema de proteção contra cheias”. Ainda declarou que “já tem soluções em andamento, como as obras de recuperação dos diques do Sarandi, na Zona Norte” .
Nos dias 28 e 29, ganha destaque em ZH o resultado de uma pesquisa eleitoral, pela qual os porto-alegrenses opinam sobre as maiores preocupações, o que exigirá atenção do futuro prefeito: a enchente foi citada por 33% dos eleitores (Pesquisa Quest – Período: de 24 a 26 de agosto; amostra: 900 entrevistados; margem de erro: três pontos percentuais para mais ou menos, nível de confiança: 95%; registro: RS-09561/2024 no TSE).
Na terceira semana avaliada, três matérias falaram sobre o pleito: início do horário eleitoral, conteúdo dos planos de governo e a cobertura de uma reunião dos candidatos com entidades. Os conteúdos foram mais “expositivos”, além de nenhum ter sido exclusivamente referente à enchente.
Entre o final de agosto e 5 de setembro, apenas duas publicações falavam sobre eleições e enchentes.
O jornal ZH pautou claramente o assunto no dia 10 de setembro, ao falar sobre a substituição, ou não, do Muro da Mauá. Contextualiza sobre os projetos para modificação do muro de contenção e, após esse texto amplo da situação, pergunta aos quatro candidatos (as) se são a favor ou contrários à substituição do muro.
Na semana de 16 a 23 de setembro, chama atenção como a enchente aparece em discussões diversas em eventos de campanha, como encontro com entidades empresariais. No evento, os candidatos se posicionam sobre a responsabilidade pelos estragos ocorridos na cidade. O atual prefeito volta a afirmar que a gestão não pode ser responsabilizada, enquanto candidatos de oposição dizem que o desastre não foi uma surpresa e que a gestão municipal poderia ter agido para prevenir e gerir melhor a situação.
Das edições analisadas no período, em uma o tema partiu da redação, na pergunta realizada aos candidatos sobre o Muro da Mauá. No restante, algumas declarações de candidatos sobre a questão enchente aparecem dentro de publicações cujos ganchos das matérias são outros assuntos.
Referências
BRASIL, Felipe G., CAPELLA, Ana Cláudia. O Processo de Agenda-Setting para os Estudos das Políticas Públicas. Revista de Pesquisa em Políticas Públicas. Edição nº 06 – 1º Semestre de 2015.
TRAQUINA, Nelson. “O paradigma da agenda-setting: Redescoberta do poder do jornalismo”. In: Revista ComunIcação e Linguagens. Lisboa: 1995.
*Daniela Neves é doutora em Ciência Política e professora do curso de Administração Pública e Políticas Públicas da Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA).
**Caroline Fraga é estudante do curso de Jornalismo no Centro Universitário Ritter dos Reis – Uniritter.

Um comentário em “Como Zero Hora pauta a questão climática no contexto eleitoral de POA”