Quando os termômetros (do Norte Global) estouram: o pico de notícias

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Por Michel Misse Filho*

O assunto do texto desta semana não poderia ser outro, senão a onda de calor extremo que assola o hemisfério Norte neste verão, batendo recordes atrás de recordes nas temperaturas e sendo amplamente noticiada. A primeira semana de julho foi a mais quente da história, e as duas maiores economias (não por acaso, também as mais poluidoras) do mundo — Estados Unidos e China — viram os termômetros dispararem para mais de 52ºC na China. Coincidentemente, na mesma semana as duas potências retomaram, após um ano, o diálogo sobre a questão climática.

A onda de calor é avassaladora também pela Europa, Japão e Oriente Médio — no Irã, a sensação de calor chegou a incríveis 66 ºC em um aeroporto, acima da marca suportável pelo corpo humano. O jornal O Globo publicou essa e outras reportagens, próprias ou de agências internacionais, numa cobertura ampla sobre o tema nos últimos dias. O jornal possui uma subeditoria de Mundo chamada “Clima e Ciência”, e um panorama geral do assunto pode ser encontrado nesta matéria, que lista, em quatro pontos, a magnitude da onda de calor. Já o Brasil, situado no hemisfério Sul, também não passa ileso: o calor por ora dá trégua, mas os eventos climáticos extremos seguem firmes, como o ciclone extratropical que atingiu boa parte do país. Sobre eventos extremos no nosso país, o jornal publicou um podcast especial na última semana.

O aumento das notícias sobre as mudanças climáticas parece evidente, mas é mais sintomático do que uma boa notícia: espelha a emergência climática em curso, embora o pico de notícia seja sempre, em todos os anos, durante o verão dos países ricos. De qualquer forma, pode e deve ajudar ao aumento do chamado “letramento climático” na população, abordado em coluna da Folha de São Paulo, e tido como fundamental para a pressão por formulações de políticas para o clima. Esperamos que não seja tarde demais.

*Jornalista, doutorando em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) e do Laboratório de Estudos Sociais dos Resíduos (UERJ). E-mail: michelmisse93@gmail.com.

O Brasil no cenário mundial da crise climática: para onde iremos?

Barco navega em rio na Amazônia, que reflete céu azul e árvores
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Por Michel Misse Filho*

A eleição de 2022, definidora do futuro da democracia brasileira, colocou em cena também, entre tantos outros temas, a pauta socioambiental e a beira de um possível abismo. Se o futuro brasileiro aos votos pertence e o novo governo tem as credenciais para o tema, um recorte temporal apenas sobre as matérias da última semana indica o presente devastador em que estamos inseridos.

Na quinta-feira, 27/10, foi publicado o relatório anual de lacunas de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), e o diagnóstico é de um ínfimo avanço no sentido de redução das emissões até 2030, desde a COP26, de Glasgow em 2021. O relatório aponta que as novas metas climáticas submetidas pelos países permanecem insuficientes para preencher a lacuna de emissões, caso desejemos limitar o aquecimento do planeta aos 2ºC acordados em Paris, em 2015.

Se números, acordos e metas de emissão por vezes soam abstratos, as consequências são das mais concretas. Na quarta-feira, 26/10, um relatório da premiada revista The Lancet apontou um aumento de 68% na mortalidade relacionada ao calor, para pessoas acima de 65 anos. Além disso, o documento expõe o aumento de 29% em áreas do planeta afetadas por secas extremas, entre outras consequências da emergência climática que podem ser verificadas nesta matéria publicada pela Folha de São Paulo. Ainda sobre os efeitos do calor, no mesmo dia a UNICEF publicou o prognóstico de que, até 2050, todas as crianças devem estar expostas à alta frequência de ondas de calor. Outros detalhes sobre este relatório foram publicados também pela Folha, evidenciando um papel importante do jornal na informação da pauta climática.

O mundo assiste, preocupado, aos efeitos da crise climática e a inépcia de governantes, ao mesmo tempo em que observa, de longe e aflito, os desdobramentos das eleições brasileiras. A pauta do desmatamento é central, e ninguém menos que o New York Times publicou que a eleição brasileira irá determinar o futuro do planeta. Por fim, e fechando este sobrevoo pelas matérias da semana que passou, o STF formou maioria para determinar a reativação do Fundo Amazônia pelo governo federal em até 60 dias. A notícia é boa, mas mais importante são as escolhas que o governo eleito fará para gerir este e tantos outros recursos.

* Jornalista, doutorando em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). E-mail: michelmisse93@gmail.com.