Imagem: Captura de tela – Reportagem publicada no site da Época Negócios
Por Eutalita Bezerra*
Há alguns dias vivemos a semana Fashion Revolution. Porto Alegre, por exemplo, sediou diversas atividades alusivas ao evento cuja pauta propunha um olhar reflexivo sobre a cadeia da moda, uma das mais poluentes do mundo e que cresce exponencialmente. Época Negócios afirma em reportagem publicada no último dia 13 de maio que, hoje, a indústria da moda deixa a desejar em investimentos quando o assunto é sustentabilidade. Isto vai na contramão do que se apregoava nas discussões recentes – inclusive ao que ela mesma noticiava dois meses antes, conforme retomaremos.
Apontando como justificativa a falta de esforço conjunto dos players do mercado, Época apresenta um novo relatório publicado por consultorias internacionais que verificaram metas de sustentabilidade das labels de moda e sua efetiva aplicação, atestando que a indústria havia subido dois pontos a menos que o ano anterior neste quesito.
Época descreve o cenário catástrófico que pode se confirmar em pouco mais de 20 anos caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam reduzidas por essas empresas, visto que a indústria da moda gera mais destes poluentes que todos os voos internacionais e cargas marítimas juntos. Para a mitigação, sugere, por parte das empresas, a implementação de soluções de maneira ampla e rápida. Do poder público, a criação de regras mais rígidas. Às mídias, que se mantenham atentas aos problemas do setor. Aos investidores, que apoiem marcas dedicadas à causa. E recorre, ainda, ao consumidor, propondo que este pressione as marcas que consomem, considerando que as empresas se preocupam com a sustentabilidade à medida que são demandadas pelos clientes.
A esta gama de soluções apresentadas e ao caminho possível trazido por Época, entendemos tratar-se de um olhar amplo e apurado, como propõem os preceitos do jornalismo ambiental. Além de trazer diversos vieses sobre a questão, que esclarecem desde as causas até as suas consequências, a reportagem é rica em números e em exemplos que aproximam a leitura do consumidor, afinal, a vestimenta é um dos poucos itens de consumo que é comum a tantas sociedades.
Para um enriquecimento da abordagem, e então retomamos o que foi pontuado no início, sobre a longa reportagem feita dois meses antes na mesma revista, se poderia ter ouvido outras fontes que não apenas um dos coautores do relatório. O que dizem outros interessados no assunto? As empresas concordam que têm investido menos? O que as fez tomar passos para trás nesse caminho considerando que, conforme outros relatórios trazidos também por Época, cada vez mais o consumidor exige uma postura economicamente sustentável dessas empresas? Sobraram questões e faltaram respostas.
* Jornalista, doutoranda em Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul com bolsa Capes. Integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).