Foto do planeta Terra feita pelos astronautas da Apollo 17 no dia 7 de dezembro de 1972 conhecida como Blue Marble (bolita azul, em tradução livre) ampliou a noção de risco planetário e a consciência ambiental. Fonte: Nasa
Por Roberto Villar Belmonte*
Não há como ter um debate equilibrado em uma reportagem ou programa jornalístico entre cientistas e defensores do terraplanismo, aqueles que acreditam que o planeta Terra é plano. Esse foi um dos exemplos citados para problematizar a regra de ouvir os dois lados durante o congresso internacional de ombudsmans que reuniu 35 profissionais de 27 países na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, na primeira semana de junho para discutir o “jornalismo em um mundo polarizado”. O relato foi publicado pela nova ombudsman da Folha de S.Paulo, Flavia Lima, na sua coluna do dia 9 de junho.
No jornalismo ambiental, tal regra também não pode ser levada em conta em reportagens sobre a mudança do clima, como já assumiu publicamente no Brasil o repórter André Trigueiro antes mesmo do Acordo de Paris (2015). Em um programa sério sobre crise climática, não é possível abrir espaço para os negacionistas, defende acertadamente Trigueiro, que também é professor de jornalismo ambiental na PUC- Rio. Os negacionistas são animadores de plateia pagos para desinformar, como mostrou reportagem de Patrícia Mello e Avener Prado em um dos capítulos do especial Crise do Clima publicado em 2018 pela FSP.
Fora essas duas situações extremas, no geral a regra de ouvir o(s) outro(s) lado(s) é fundamental. Tanto é assim que uma das conclusões mais frequentes nas pesquisas sobre reportagens que tratam de temas ambientais é justamente o predomínio da fala oficial e a falta de outras perspectivas na abordagem jornalística das pautas de interesse público que giram em torno da relação sociedade-natureza.
Um exemplo dessa importância de ouvir o(s) outro(s) lado(s) é a notícia publicada no jornal Folha de S.Paulo sexta-feira passada (14 jun. 2019) pela repórter Ana Carolina Amaral com a manchete Proposta de Kim prevê isentar setor agrário de licenciamento. A matéria repercute o texto-base do projeto que cria a nova lei geral de licenciamento ambiental divulgado em grupo de trabalho coordenado pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM/SP). Como a repórter conhece o contexto do assunto, ouviu também duas fontes ligadas aos movimentos ambientalistas que quase nenhuma voz tem na atual configuração política do país. Se a regra de ouvir o outro lado não fosse respeitada, apenas a versão oficial seria publicada.
Quem melhor define no Brasil esse lado que o jornalismo ambiental assume nas suas narrativas é o site O Eco, criado em 2004 por Marcos Sá Correa, Kiko Brito e Sérgio Abranches: “Damos voz a bichos e plantas, às pessoas que os protegem e aos bons debates sobre conservação”. Um bom debate só é possível quando a opinião pública tem acesso a diferentes perspectivas.
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