Livros-reportagem: o jornalismo respira em um mundo sem fôlego

Por Reges Schwaab*

A urgente abordagem qualificada das mudanças climáticas não significa pressa. Será necessário encontrar o tempo para a complexidade que o tema requer. Ela começa na compreensão individual que permita visualizar as drásticas alterações globais em curso, já documentadas por cientistas, bandeira de movimentos sociais, tema de filmes e capas de revistas e alvo do negacionismo desprovido de ética.

Já não é possível pensar nosso cotidiano sem o olhar socioambiental. A cobertura guiada por acontecimentos pontuais deve ser suplantada pela realidade implacável da emergência climática, que não escolherá lugar, hora ou fronteira, com verdadeiro potencial de alterar a vida como experimentamos hoje.

Trabalhos com rigor de apuração e abertura interpretativa são valiosas fontes de estudo. E servem a jornalistas e a toda pessoa que queira oxigenar sua compreensão dos múltiplos aspectos das mudanças climáticas.

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Imagem: Reprodução. Livro de Jonathan Safran Foer ainda sem tradução no Brasil

O escritor Jonathan Safran Foer, em “We are the weather”, não adia consequências nem decisões pela ação. As mudanças climáticas são um problema global e individual, mas essas não são hipóteses excludentes, afirma. Oferece um ensaio de grande investimento em pesquisa e forte apelo emocional. Aponta para a necessidade de ações governamentais sistêmicas e de transformação de hábitos de vida, pois o sofrimento causado pela crise do clima será irrestrito.

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 Imagem: Reprodução. David Wallace-Wells já pode ser lido em português

Elogiado por Safran Foer, “A terra inabitável”, do jornalista David Wallace-Wells, desconstrói a fantasia de que as mudanças climáticas têm ritmo lento. Traça um cenário de fome, calor, enchentes, desertificação e crise econômica, com grande capacidade de observação e prospecção. O poderoso embasamento que sustenta o livro faz pensar com assombro nas mudanças que tomarão forma ainda neste século.

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Imagem: Reprodução. Cláudio Angelo mescla reportagem, diário de viagem e relato científico

A espiral da morte – como a humanidade alterou a máquina do clima”, de Claudio Angelo, dialoga com diferentes leitores sem perder o rigor. Uma “leveza” no tom do texto aparece mesmo nos detalhes do derretimento das calotas polares e nas consequências para a agricultura e para as cidades. A força do “repórter na rua”, ou “no mundo”, rende uma mescla de reportagem, diário de viagem e relato científico. As mudanças climáticas são o maior desafio da humanidade, argumenta.

A literatura produzida sob a rubrica do jornalismo é campo em destaque na crítica especializada e em prêmios nacionais e internacionais. Fontes de qualidade para o debate, mesmo que o colapso seja, inevitavelmente, um componente do nosso futuro.

Para ampliar:
David Wallace-Wells – Desastres em cascata (Revista Piauí)

*Reges Schwaab é jornalista, professor da Universidade Federal de Santa Maria e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).
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