
Por Cláudia Herte de Moraes*
Em 2019, a jovem sueca Greta Thunberg foi destaque nas mídias ao redor do mundo justamente por potencializar a mensagem sobre o que a ciência do clima tem feito há décadas. No Fórum Econômico em Davos, em janeiro de 2020, falando de emergência climática, a ativista disse que “Precisamos começar a ouvir a ciência e tratar esta crise com a importância que ela merece”, conforme reportagem da agência Sputinik.
Em relação à pandemia, a ciência também amplia o seu papel através da indicação de caminhos para seu enfrentamento, com orientações sobre a gravidade da doença COVID-19, formas de evitar o contágio, pesquisas sobre medicamentos e vacinas. Mesmo com os alertas, alguns governantes levam suas populações a pagar um preço muito alto de contaminação e milhares de mortes, como o exemplo dos Estados Unidos, mostrado na crítica do New York Times. Parece que o valor econômico ainda está sendo colocado acima da vida. O mesmo ocorre com a crise climática, que bate à nossa porta de forma inequívoca, mas não mobiliza governos para seu enfrentamento. Então, a primeira lição é não ignorar os avisos da ciência.
Além da valorização dos cientistas, temos a lição, não menos importante, para agir de forma preventiva. Se há incerteza quanto ao funcionamento do vírus, o mais correto é agir a partir do princípio da precaução, definido na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) como uma garantia contra os riscos potenciais, mesmo que o estado atual do conhecimento não possa identificá-los, pois “a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano”.
Em terceiro, temos a oportunidade de priorizar a ajuda aos mais vulneráveis. Pela falta de políticas públicas eficazes ao longo do tempo, há milhões de pessoas doentes, pobres, sem moradia, saúde, saneamento, ou alimentação, e que são mais afetadas nas crises. Devem ser resgatadas pela sociedade, pois a construção da igualdade social é da ordem da sustentabilidade. Na retomada econômica, ao implementar políticas públicas para a superação das vulnerabilidades sociais, estaremos ampliando o esforço de adaptação à emergência climática.
Para abordar a análise da imprensa neste cenário, cabe salientar que a maioria dos grandes veículos tem dado destaque ao papel da ciência e aos aspectos preventivos, mas poucos à desigualdade. Neste segundo grupo, encontramos a reportagem especial da plataforma Ecoa, do portal Uol: “No Brasil, quase 35 milhões de pessoas vivem sem acesso a água tratada, enquanto 100 milhões não possuem esgoto, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento em 2018.” Como esperar que sem acesso a bens essenciais as pessoas estariam protegidas? Ao lado disso, construir uma nova forma de agir em relação à política, como propõe Mariana Belmont, colunista da mesma plataforma: “Teremos um grande desafio político, e nesse sentido quero dizer que teremos que olhar a política como meio fundamental para o combate às desigualdades, um olhar para reconstrução.”.
Diante da crise, podemos pensar e agir de forma mais sustentável, reconectando o humano com o valor da vida, priorizando ecossistemas ao invés do lucro, de forma mais democrática e fraterna. O jornalismo é capaz de trazer grande contribuição social neste sentido, indicando ações que são coerentes com o patamar do conhecimento coletivo, de forma preventiva e pela igualdade. São lições adequadas ao enfrentamento tanto do coronavírus quanto da emergência climática.