Incêndios florestais em pauta

Mapa de perda de floresta devido ao fogo vs. outros fatores entre 2001 e 2019 (Foto: Alexandra Tyukavina, Peter Potapov, Matthew C. Hansen, Amy H. Pickens, Stephen Stehman, Svetlana Turubanova, Diana Parker, Viviana Zalles, André Lima, Indrani Kommareddy, Xiao-Peng Song, Lei WANG, and Nancy Harris). Fonte: Reprodução da notícia publicada em Galileu

Por Leticia Menezes Pasuch*                                                 

A realidade da crise climática, que aumenta de forma global, é uma pauta recorrente na mídia, sobretudo diante dos seus impactos. Publicada no site da Revista Galileu no dia 16 de março de 2022, a notícia “Incêndios causaram perda de um terço das florestas do planeta” traz um estudo tecnológico inédito sobre as tendências globais de perdas florestais, divulgado no periódico Frontiers in Remote Sensing, que publica pesquisas associadas a ciência e tecnologia.

A matéria levanta questões importantes e de interesse público referentes à situação das queimadas nas áreas florestais e sua proporção global entre 2001 e 2019 – sendo maior do que o estimado, além de mencionar o Brasil e as recentes queimadas na Amazônia, que chamaram a atenção dos pesquisadores. É apresentado o mapa produzido pelos autores, ilustrando em clara resolução as regiões que tiveram perda florestal e facilitando a visualização de quais áreas foram perdidas pela queimada ou por outros fatores e onde ainda não houve perdas.

No entanto, o conteúdo do texto se limita à reprodução dos dados da pesquisa, oferecendo pouca contextualização da temática que a envolve. Também não ouve muitas fontes, trazendo apenas declaração de uma das autoras do trabalho. A matéria não aponta a relação desses fenômenos com as ações humanas, que provocam, em maior parte, os incêndios florestais, além de não aprofundar esses danos à biodiversidade e aos ecossistemas.

De acordo com Wilson Bueno (2007a, p.18), com uma cobertura jornalística ambiental fragmentada, “o cidadão muitas vezes tem dificuldades para entender a amplitude e a importância de determinados conceitos e vislumbra o meio ambiente como algo que lhe é externo”, dificultando o entendimento do seu papel nessa atmosfera ambiental. Isso não auxilia na compreensão, nesse caso, dos motivos pelos quais os incêndios florestais ainda acontecem, quais são as consequências acarretadas pelas queimadas – como a emissão de gases do efeito estufa, mencionada no estudo – e, principalmente, o que pode ser feito para reverter tal situação e qual é a importância da participação dos setores público e privado no combate aos incêndios florestais.

A matéria negligencia o debate da emergência climática, inserindo apenas uma breve menção, no último parágrafo, de que o mapa apresentado “deve ser utilizado como ferramenta para fazer a gestão florestal e auxiliar no desenvolvimento de políticas globais e programas de conservação e modelagem climática”. A sua publicação foi feita no Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas e, no dia anterior (15), o mesmo veículo publicou outra notícia sobre um relatório que aponta consequências do aquecimento global nas américas até 2050, igualmente limitada e orientada para uma perspectiva catastrófica, trazendo dados científicos sem contextualizar a repercussão do estudo e ainda recorrendo ao sensacionalismo, uma das síndromes do jornalismo ambiental apontadas por Bueno (2007b).

Ao contrário, a cobertura dos incêndios, conforme o jornalismo ambiental, deveria ser comprometida com a mudança de paradigmas, enxergando além das aparências (BUENO, 2007a) e trazendo as pautas ambientais de forma ampliada, de modo a visibilizar as ações necessárias para lidar com catástrofes. A imprensa não poderia se eximir do papel educativo, colocando as informações necessárias e corretas à disposição da sociedade, que poderá tomar suas decisões diárias conectadas com a construção de uma vida sustentável (GIRARDI; LOOSE; BAUMONT, 2011).

Referências:

BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, Jornalismo e Meio Ambiente: teoria e pesquisa. São Paulo: Majoara, 2007a.

BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Ambiental: explorando além do conceito. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 15, 2007b. pp. 33-44.

GIRARDI, Ilza; LOOSE, Eloisa; BAUMONT, Clarissa (orgs.) Ecos do Planeta: Estudos sobre Informação e Jornalismo Ambiental. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011.

*Aluna da disciplina Jornalismo e Meio Ambiente da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: leticiampasuch@gmail.com.

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