
Por Eloisa Beling Loose*
O jornalismo tem buscado cumprir com seu papel de amplificar os alertas dos especialistas em relação às perdas anuais de área dos biomas. Neste Observatório já trouxemos análises sobre como a supressão da vegetação nativa do Pampa carece de mais espaço e problematização, sobretudo regionalmente, por estar localizado no Rio Grande do Sul e ser fortemente atrelado à identidade dos gaúchos. Nacionalmente, são poucas as vezes que o assunto é visibilizado, de tal modo que já foi nomeado pela imprensa de “bioma esquecido”. Contudo, como pensar em proteção ambiental de uma área se não temos conhecimento dela e de seu valor?
A perspectiva do Jornalismo Ambiental não se contenta apenas com a denúncia, com a exposição dos fatos. A informação deve ser bem apurada e devidamente checada, mas também permitir que os públicos compreendam a questão, avançando para uma abordagem que colabore com a educação e a promoção de uma postura cidadã. Logo, o fato de a destruição do Pampa seguir seu curso, ano após ano, precisa ser noticiado, porém não somente quando os números revelarem uma perda expressiva.
Tudo aquilo que se manifesta de forma lenta e contínua tende a ser naturalizado pela sociedade – e o jornalismo, baseado em critérios factuais e que supervalorizam aquilo que rompe com a normalidade, contribui para não discutirmos os processos insustentáveis que nos cercam. Uma alternativa, bem-vinda, é esperar algum dado novo para aprofundar a temática, como Daniela Chiaretti, do jornal Valor Econômico, fez na notícia “Pampa perde o equivalente a 2,5 vezes a área de Porto Alegre ao ano”. Ao dar alcance nacional à carta da Coalizão do Pampa, que traz ações para usos sustentável e conservação do bioma, a jornalista também ampliou o contexto de devastação, derivado, principalmente, do avanço da soja, eucalipto e pastagens plantadas, e trouxe a defesa do fortalecimento da pecuária familiar como uma das respostas à situação.
O lançamento da “Carta aberta à sociedade gaúcha pela proteção do Pampa” foi feito no dia 1º de julho, mas a repercussão na imprensa foi bastante pontual. Identificamos cobertura pela EcoAgência de Notícias Ambientais e pelo O Eco, por exemplo, porém os meios de comunicação tradicionais do Rio Grande do Sul não colaboraram para o debate público do bioma, que ocupa mais da metade do seu território – GZH publicou uma pequena nota sobre a divulgação da carta.
O jornalismo tem potencial de circular informações que possam melhor explicar nossa realidade e gerar subsídios para atitudes mais coerentes com o enfrentamento da crise ambiental já instalada. Aprofundamento da pauta, recorrência na cobertura e questionamentos para desnaturalizarmos as perdas (em todos os âmbitos) são possibilidades para que os públicos conheçam a dimensão das problemáticas ambientais e aprendam sobre o cuidado que devemos ter com o lugar no qual vivemos.
*Jornalista, doutora em Comunicação e em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Pesquisadora e vice-líder do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental. E-mail: eloisa.beling@gmail.com.