O que o Jornalismo tem a ver com a nossa água de todos os dias?

Captura de tela

Imagem: Captura de tela da reportagem publicada na Folha do Mate

 

Por Carine Massierer*

O ser humano pode ficar semanas sem comida, mas se passar de três dias sem água, pode morrer. Assim, água é um recurso essencial e nós corremos o risco, em função da poluição, de termos um dos bens mais preciosos à nossa vida, indisponível.

Daí o imperativo do Jornalismo informar à população o que está acontecendo com a água que ingerimos todos os dias. Você que lê este texto, sabe o que tem na água que bebe? Eu já imaginava que a água consumida por nós corria o risco de estar impotável, por isto, ao ver a manchete “Testes detectam 21 agrotóxicos na água que abastece Venâncio Aires”, publicada em 20/04 às 6h30min, eu fiquei apreensiva e fui ler o conteúdo.

A matéria é daquelas que nos instigam a leitura porque apresenta dados municipais e brasileiros, tabela com a descrição dos agrotóxicos encontrados no município, pesquisas a respeito, explicações de fontes diferenciadas, os perigos à saúde, os efeitos dos agrotóxicos na natureza, como foi feita a coleta da água, a fala dos envolvidos e opiniões da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e da Vigilância Sanitária. Esta matéria mesmo sendo publicada na editoria de Local, caberia na editoria de Meio Ambiente, Saúde ou qualquer outra porque aborda de forma qualificada este tema e sua transversalidade. Justamente isto é o que se propõe o Jornalismo Ambiental.

Isto demonstrou não só que o conteúdo vem sendo qualificado cada vez mais e aprofundado em jornais locais, mas mostra ainda o engajamento do veículo e sua preocupação social em deixar a par a população de que há um perigo no consumo da água em Venâncio Aires (RS).

Em virtude da importância social do tema, fui averiguar quando a matéria geradora da pauta tinha sido publicada pela Agência Pública. No dia 12/04 a matéria foi publicada no site Por Trás do Alimento, com o título “Conheça os 27 agrotóxicos encontrados na água que abastece as cidades do Brasil”, e repostada dia 15/04 no mesmo site e no da Agência Pública, com a chamada “Coquetel com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios”. A partir daí veículos de pequenas e grandes cidades do país passaram a pautar o assunto, mas e a grande imprensa da capital? Até o dia 24/04 não foram localizadas postagens na internet dos jornais Correio do Povo e Zero Hora a respeito, veículos de referência no Rio Grande do Sul.

Sendo assim, o que se pode pensar é que a ampliação dos temas de forma mais qualificada é possível ser feita em jornais não hegemônicos como, muitas vezes, são os jornais locais. O que aponta para uma nova perspectiva na modernidade, de que os espaços para matérias especializadas e aprofundadas estão se tornando cada vez menores em grandes veículos.

Enfim, independente do tamanho do veículo, é importante observar que a Agência Pública está conseguindo ser uma interpretadora e informadora de dados públicos disponíveis, levando informações de extrema importância aos meios de comunicação e a população de todo o país. Isto, sobretudo, é uma conquista para a comunicação pública e para o Jornalismo Ambiental que, segundo Girardi (2001, p. 60), “informa, forma e faz um papel educativo, cumprindo com a missão de contribuir com a construção da cidadania, desde a perspectiva local à perspectiva planetária”.

Referência:

GIRARDI, Ilza Maria Tourinho. O jornalismo ambiental nos cursos de jornalismo. In: JACKS, Nilda et alTendências na comunicação. Porto Alegre: L&PM, 2001.

*Carine Massierer é jornalista, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

 

 

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