Nas eleições dos EUA, a pauta é amazônica

Por Ângela Camana

Fonte: Captura de tela do site da Veja

Na última semana o mundo acompanhou atento o desenlace das eleições norte-americanas, cuja vitória do candidato democrata à presidência, Joe Biden, foi conhecida no sábado, dia 7. Enquanto os votos eram apurados, no Brasil observamos a declaração de apoio de Bolsonaro à reeleição de Donald Trump, um gesto inédito na política externa nacional, tradicionalmente neutra quanto aos pleitos das nações estrangeiras. Todo este cenário já tenso adquire outros matizes em função do papel que a Amazônia teve na disputa, já que Biden afirmou que estará atento à preservação da floresta, o que foi amplamente repercutido pela imprensa. 

Em entrevista concedida em março, mas reverberada fortemente nesta primeira semana de novembro, Biden afirmou sua disposição para articular um grupo de países a fim de pressionar o governo Bolsonaro pela conservação da Amazônia, prevendo aportes financeiros massivos e mesmo sanções econômicas caso isso não ocorra. O presidente brasileiro respondeu, reforçando o apoio a Trump e argumentando que os dizeres do candidato democrata são uma afronta à soberania nacional. No último dia 3, o vice-presidente Hamilton Mourão, que dirige o Conselho Nacional da Amazônia, também declarou seu incômodo com a postura do norte-americano

Os maiores veículos de imprensa brasileira publicizaram todo este debate no âmbito da extensa cobertura dedicada às eleições norte-americanas. No entanto, há que se considerar que não conseguiram escapar do jornalismo declaratório, isto é, da mera reprodução de falas das personalidades em questão. Uma pena, já que a pauta ambiental envolve controvérsias e disputas que merecem ser melhor exploradas, sobretudo na semana na qual os próprios EUA abandonaram o Acordo de Paris. Tudo indica que a agenda ambiental no contexto das relações Brasil-EUA voltará a ter força nos próximos meses: passada a corrida presidencial, espera-se que os veículos brasileiros possam abordar a questão para além da editoria de política investindo em novas fontes e análises.

Por fim, neste pleito acirrado e marcado por acusações, é importante destacar também a ação inédita das três principais emissoras de televisão norte-americanas ao interromperem a transmissão ao vivo do discurso do atual presidente Donald Trump, em função de seu conteúdo falso. Qual o limite do espaço a ser dado a fontes que propagam fake news? Como o compromisso ético do jornalismo com a verdade vem sendo tensionado ano após ano por atores que difundem desinformação deliberadamente, veja-se o caso dos negacionistas das mudanças climáticas, a atitude emblemática da imprensa norte-americana vem em boa hora. Que sirva de exemplo a outros veículos mundo afora. 

* Jornalista e socióloga. Membro do GPJA e do TEMAS (Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade). E-mail: angela.camana@hotmail.com

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