Vidas indígenas importam na imprensa e para o mundo

Imagem: Reprodução da edição de 3 de novembro de 2021 da CNN Brasil.

Por Carine Massierer*

A importância do ser humano e da espécie humana em seu habitat nunca esteve tão em xeque. Na semana passada, o artista indígena Jaider Esbell foi encontrado morto em seu apartamento, em São Paulo, e a notícia foi repercutida em publicações impressas, em rádios, nas emissoras televisivas e na internet. A causa da morte segue desconhecida. O artista plástico, que pertencia à etnia makuxi, assentada na reserva indígena Raposa Serra do Sol, também se destacava como escritor, ativista e educador.

Natural de Roraima, Esbell foi reconhecido lá fora, no exterior, a ponto de o Centre Pompidou adquirir duas obras suas recentemente, como contou sua marchande Socorro de Andrade Lima, da galeria Millan, que representava o artista, ao Correio Braziliense.

Até final de outubro, sua instalação “Entidades” (que apresentava duas cobras infláveis gigantes) esteve no Parque Redenção, integrando a programação do 28° Porto Alegre em Cena. Suas obras também estão na mostra coletiva “Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), durante a 34ª Bienal de São Paulo que vai até final de novembro.

A matéria da CNN sobre tal acontecimento nos traz uma reflexão. Assim como outras publicações, essa também apresentou apenas o fato, a notícia do falecimento de um indígena que ganhou expressividade e reconhecimento público. E, independentemente da causa, trata-se da morte de mais um indígena e do enfraquecimento das lideranças e dos representantes sociais dos povos tradicionais. A imprensa tem feito seu papel noticiando, mas é preciso ir além, como fez a Agência Pública, em final de outubro, ao publicar uma entrevista da antropóloga Lúcia Helena Rangel, que coordenou o relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Imagem: Reprodução da publicação de 28 de outubro de 2021 da Agência Pública.

Com base no acompanhamento contínuo feito por missionários espalhados em todo o Brasil e em uma série de dados oficiais, o CIMI detectou que, desde 2015, não havia tantos registros de violência contra indivíduos e territórios indígenas. Em 2020 foram pelo menos 182 vítimas conhecidas, número recorde em 25 anos. Ao todo, os homicídios de indígenas tiveram um aumento de mais de 60% na comparação com o ano anterior, 2019.

Com este levantamento é possível perceber que as vidas indígenas importam e que os povos tradicionais estão desprotegidos. O jornalismo, enquanto parte de um sistema de informação pública, deveria, ao menos, dar mais expressão à cultura indígena e seus representantes não só em momentos onde o factual impera, como no caso da morte de Esbell, mas ampliar e diversificar a cobertura para que a população entenda que eles estão sendo historicamente dizimados.

*Carine Massierer é jornalista, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

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