
Por Nicoli Saft*
No dia 14 de dezembro, o El País publicou uma nota anunciando o fim de sua edição em língua portuguesa. Iniciada com o calor dos protestos de 2013, a edição brasileira cobriu os importantes acontecimentos que aconteceram no país desde então com um olhar crítico.
Em outubro do ano passado o jornal adotou o modelo de paywall e passou a cobrar assinaturas de três dólares mensais. A nota argumenta que, embora contando com um número considerável de assinantes digitais, o jornal não adquiriu sustentabilidade financeira. A partir de agora, textos sobre o Brasil poderão ser encontrados em espanhol no El País America.
A finalização das atividades pegou de surpresa não somente os leitores: segundo a diretora do El País Brasil, Carla Jimenez, a redação ficou sabendo do fim da edição quase ao mesmo tempo que o restante do país.
Aqui no Observatório citamos reportagens do El País Brasil ao menos 18 vezes desde nossa criação em 2019. Foi um jornal que mostrou outros olhares sobre os agrotóxicos, contando a pulverização de veneno por cima de áreas indígenas; falou sobre os impactos econômicos das queimadas da Amazônia e mostrou formas criativas de aproximar o leitor desse crime, mostrando o tamanho da destruição se acontecesse em sua cidade. Mais recentemente, conectou o aumento da conta de luz ao desmatamento e à emergência climática , e essas foram apenas algumas das reportagens do El País Brasil que nos impactaram.
Claro, nem todas as menções foram positivas. Ao falar sobre o acordo comercial entre a União Europeia e a Mercosul, a edição brasileira do jornal espanhol não voltou seu olhar para o Brasil . A situação nos faz lembrar que embora exalem brasileiridade em diversos momentos, o jornal ainda é espanhol.
Possivelmente um dos fatos mais marcante para nós a respeito do El País Brasil, é que o jornal era casa de Eliane Brum por todos esses anos, abrigando suas profundas análises de um olhar vindo do “centro do mundo”. A colunista foi surpreendida com a notícia do fim da edição brasileira ao chegar de uma viagem a Terra do Meio. Em seu twitter anunciou que sem dúvida continuará escrevendo, mas ainda irá comunicar como será isso.
O fim do EL País Brasil nos deixa mais uma vez pensando sobre os modos de negócio jornalístico e como fazer um veículo que se autossustente nos dias atuais, mas não vou me demorar sobre isso dessa vez. A mensagem de Eliane Brum nos deixa esperança de ver algo novo nascer. A edição brasileira do jornal era liderada por mulheres que fizeram um incrível trabalho por esses oito anos. O fim é triste, mas espero que os jornalistas que faziam tudo acontecer continuem a fazer um jornalismo engajado e a enriquecer o jornalismo brasileiro de alguma forma.