A responsabilidade da imprensa hegemônica na catástrofe climática do RS

Imagem: As ruas de Porto Alegre em indesejada simbiose com o Guaíba / Isabelle Rieger / Sul21

Por Sérgio Pereira*

O Rio Grande do Sul busca se reerguer de sua maior tragédia ambiental. Até o momento, foram mais de 170 mortos, centenas de feridos e milhares de desabrigados. O cenário é de grande destruição, o que resultou na quase paralisação do estado desde o início de maio. O Aeroporto Internacional Salgado Filho segue fechado, a rodoviária de Porto Alegre e o trem metropolitano ficaram por dias inoperantes, hospitais e escolas foram inundados, como também diversos prédios públicos.

A imediata reação da sociedade diante desse quadro foi, inicialmente, priorizar a preservação da vida. Todos os esforços foram direcionados para resgates, atendimento médico, acolhimento e apoio às vítimas. “Não é hora de procurar culpados”, era o que diziam não apenas os supostos culpados, mas também representantes da imprensa hegemônica gaúcha.

O que não se observa na grande mídia é justamente uma discussão sobre as suas responsabilidades, principalmente no que se refere à omissão frente aos possíveis riscos ambientais. Ao silenciar, esse Jornalismo não só se prepara apenas para “cobrir catástrofes, mas ele próprio é cúmplice do desastre” (Loose, Camana e Belmonte, 2017, p. 12).

Após as chuvas de setembro e novembro de 2023, em menor volume que as da enchente de maio de 2024, mas também bastante intensas, fica a pergunta: porque o Jornalismo hegemônico gaúcho não se interessou em verificar as reais condições dos sistemas de proteção existentes em Porto Alegre (muro da Avenida Mauá, comportas, casas de bombas, diques)?

Loose, Camana e Belmonte elencam três razões para que os jornalistas não se sintam estimulados em cobrir riscos ambientais: “1) a incerteza científica por si só, típica dos riscos, não atrai os jornalistas, que buscam concretudes; 2) se não há uma medida do governo ou outra instituição em relação à prevenção, é muito provável que o risco seja ignorado e, portanto, não percebido – o que desencoraja  o  valor-notícia  da  estória;  e  3)  o  risco  refere-se  a  projeções  e  os  jornalistas  trabalham  com  acontecimentos  –  a  manifestação  do  risco  é  um  gatilho necessário para a produção jornalística” (2017, p. 4).

A realidade atual das redações é outro ingrediente a ser pesado nesta hora. Nos últimos anos, jornais gaúchos dispensaram diversos profissionais experientes com o objetivo de reduzir custos. As redações diminuíram de tamanho e no lugar dos “dinossauros” foram contratados jovens atualizados nas novas tecnologias e cada vez mais multitarefas, mas sem os “calos” fundamentais da profissão diante dos grandes desafios. Com isso, os veículos perderam um conhecimento valioso para oferecer aos seus leitores.

O fim da setorização nas editorias também colabora para esse distanciamento das chamadas pautas de alerta. Aquela figura do jornalista figura frequente nas repartições públicas, colecionador de fontes, conhecedor dos atalhos está praticamente extinta. Quantas pautas premiadas nasceram da informação de cocheira ou da mera observação do setorista nesse acompanhamento presencial!  

O papel da imprensa na polêmica envolvendo a autorização para importação de arroz por parte do Governo Federal é outro ponto a analisar. Muitas foram as críticas em relação à medida. O que pouco se fala agora é que foi a imprensa que alertou, dias antes do anúncio, para a possibilidade de faltar o produto no mercado, o que resultou em uma corrida consumista ainda mais intensa.

Em 30 de abril, GZH chamava atenção para os estragos no setor rural provocados pelas chuvas, que ainda estavam recém iniciando no RS. A postagem “Vídeo: lavoura de arroz é inundada após chuvarada; efeitos se multiplicam no campo” já apontava para prejuízos na agricultura, com destaque para o arroz e a soja.

No dia seguinte, GZH voltou a abordar o tema: “Por que a chuva intensa trará perdas importantes na produção do RS”. A declaração do presidente de entidade que representa os arrozeiros indicava para grandes danos ao setor: “É cedo para precisar as perdas, mas uma coisa é certa: o prejuízo não é pequeno, porque em muitas regiões passou de 300 milímetros a chuva”.

No dia 2 de maio, o Correio do Povo postou a reportagem  “Chuvas isolam produtores rurais do RS”. No texto, o CP abordava também a questão do arroz, informando que lavouras estavam inundadas. O jornal se utiliza de uma nota oficial da entidade representativa dos orizicultores, que “colocou-se à disposição e reiterou seu ‘compromisso em garantir a segurança alimentar do povo brasileiro, apesar das incontáveis dificuldades e instabilidades enfrentadas pelos produtores rurais’”.

Quatro dias depois, o mesmo jornal alertava para a falta de produtos nos mercados: “Em algumas cidades do RS já faltam produtos nos supermercados”. Um dos produtos ausentes nas prateleiras era justamente o arroz, como destacava o texto.

Cabe aqui lembrar o caso também da Jovem Pan News (JP), que no dia 7 de maio veiculou reportagem em seu canal de TV com o título “Produção de arroz do RS deve ter prejuízo de R$ 68 milhões”. A matéria especulava sobre a possibilidade de elevação nos preços do cereal nas gôndolas dos mercados e nos índices de inflação. A JP, porém, não escutou nenhum produtor ou entidade representativa da categoria, tendo como fonte principal uma consultoria privada.

Impossível relacionar aqui todos os veículos do país que divulgaram o sumiço de produtos nos comércios locais e também levantaram estimativas de prejuízos no setor rural após as chuvas de maio.

A decisão do governo de importar arroz, portanto, veio ao encontro do que relatava a imprensa em geral, em rápida ação justamente com o objetivo de repor estoques e evitar os preços abusivos. A divulgação dos dados sobre a cesta básica pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no início de junho comprova que o cereal foi o segundo produto que registrou a maior elevação de preço em maio, com 13,24% de aumento. E várias foram as notícias, em diversas partes do Brasil, de arroz com preços exorbitantes nas prateleiras dos mercados.

Uma autoanálise por parte do Jornalismo nesta hora seria importante até em nome de sua sobrevivência. A credibilidade se solidifica com os acertos, mas também na admissão do erro, do exagero, da abordagem equivocada. E neste momento, em que o Jornalismo encontra a concorrência das redes sociais, da superoferta de informações, dos “fatos alternativos”, conquistar a confiança do consumidor de notícias passou a ser ainda mais fundamental.  

*Jornalista, servidor público, mestre em Comunicação pela UFRGS e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (UFRGS/CNPq). E-mail: sergiorobepereira@gmail.com.

Referências

LOOSE, Eloisa Beling; CAMANA, Ângela; BELMONTE, Roberto Villar. A (não) cobertura dos riscos ambientais: debate sobre silenciamentos do jornalismo. Revista Famecos: mídia, cultura e tecnologia, v. 24, n. 3, p. 1-18, 2017.

O papel dos veículos independentes na cobertura da catástrofe do Rio Grande do Sul

Imagem: Isabelle Rieger/Sul 21

Por Míriam Santini de Abreu*

Veículos independentes como o Sul 21, Brasil de Fato RS, Agência Pública e Intercept Brasil, entre outros, estão cumprindo um papel dos mais relevantes na cobertura da catástrofe do Rio Grande do Sul. Os quatro operam à margem da mídia hegemônica, que se refestela com recursos públicos e faz cada vez menos jornalismo. Os veículos citados trouxeram ao debate fatos ignorados, ocultados ou mal divulgados pela imprensa tradicional, mais preocupada em tentar blindar a incompetência de prefeitos e do governador do estado. Entre esses fatos estão aqueles caros ao jornalismo ambiental.

O Sul21, no dia 6 de maio, na reportagem intitulada “Tragédia histórica expõe o quanto governo Leite ignora alertas e atropela política ambiental”, assinada por Luciano Velleda, detalha as críticas de organizações não-governamentais ao governo do estado em relação às mudanças no Código Estadual do Meio Ambiente e à iniciativas como a construção de barragens em áreas de preservação da natureza.

O Brasil de Fato RS tem publicado várias reportagens a partir da periferia de Porto Alegre, ouvindo populações empobrecidas que perderam o pouco que tinham e enfrentarão dificuldades inimagináveis para recompor o cotidiano. Uma delas foi a reportagem intitulada “Em bairro ‘esquecido’ de Porto Alegre (RS), enchente faz emergir solidariedade”, assinada por Murilo Pajolla e publicada no dia 27 de maio.

Outra reportagem do Brasil de Fato RS, intitulada “Com 180 mil pessoas atingidas pela enchente, Canoas tem atendimento do CRAS interrompido” e assinada por Clara Aguiar em 21 de maio, repercutiu e serviu de base para denúncia junto ao Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MPRS). A repórter, em sua conta na rede social Instagram (@clguiar), avalia a repercussão do relato sobre as dificuldades enfrentadas pelas famílias vítimas da enchente ao tentarem se cadastrar no CadÚnico em Canoas, município vizinho de Porto Alegre. O cadastramento é essencial para que pessoas atingidas possam ter acesso aos benefícios do governo estadual e federal. “O jornalismo de impacto desempenha um papel crucial especialmente nesse momento em que milhares de vítimas da enchente buscam auxílio e informações confiáveis”, comenta Clara Aguiar na postagem.

Com o título “O passo-a-passo da inoperância no RS, segundo um dos responsáveis por alertar as autoridades”, o Intercept Brasil divulgou reportagem assinada por Paulo Motoryn e Marcelo Soares no dia 15 de maio revelando grave conflito de interesses: uma das empresas responsáveis pela manutenção do sistema de contenção de inundações de Porto Alegre tem, entre seus sócios, um ex-funcionário da prefeitura que, por dois anos, foi o responsável por sua fiscalização.

No dia 22 de maio, a Agência Pública divulgou a reportagem intitulada “Militares e políticos sem experiência estão à frente da Defesa Civil em cidades do RS” , assinada por Rafael Oliveira, tendo, para isso, analisado o orçamento empenhado para a Defesa Civil por esses municípios e pelo estado nos últimos três anos. Os dados foram extraídos diretamente do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi), abastecido pelos próprios governos estaduais e municipais.

As reportagens mencionadas são exemplos do conjunto da cobertura dos quatro veículos, que disponibilizam, em suas páginas, outros textos tão significativos quanto os acima citados.

A designação de imprensa/jornalismo tradicional, também chamada de convencional, faz referência aos grupos e empresas controladoras do setor no Brasil. Sobre o jornalismo independente, há inúmeras pesquisas que investigam o tema, sendo uma delas o trabalho de M. Silva (2017), que mapeia 30 iniciativas criadas entre 2013 e 2015 no Brasil, por ela denominadas novas experiências de jornalismo. Segundo a autora, as expressões geralmente aplicadas a esse tipo de iniciativa – jornalismo independente, jornalismo alternativo, mídia radical, mídia contra-hegemônica – não dão conta de toda a variedade de propostas que compõem tais iniciativas.

Este artigo toma o papel da imprensa tradicional/hegemônica como o de manutenção da ordem social e, em contrapartida, o da imprensa independente/alternativa/contra-hegemônica como o de crítica a esta ordem para a construção de outro modo de organização social. Os quatro veículos citados, em maior ou menor grau, explicitam essa perspectiva, e de forma concreta trazem ao fazer e ao discurso jornalístico um conjunto de temas, pontos de vista e fontes invisibilizadas ou negligenciadas no debate público.

Nesta direção, prestam-se ao exercício do direito à fala e à escrita muitas vezes proscrita na imprensa tradicional. Idealizador da ideia do direito à cidade, Henri Lefebvre, em artigo no livro “Du Contrat de Citoyenneté”, publicado em 1990, lista o que nomeia como “Os novos direitos do cidadão”. Entre eles estão o direito à informação e o direito à expressão. Diz Lefebvre que um cidadão não deve nem pode ficar calado sobre o que o preocupa e que lhe diz respeito, mesmo que apenas indiretamente: “Isso é muito: todos os assuntos da sociedade preocupam todos os membros. Daí o direito de refletir, de falar, de escrever” (LEFEBVRE, 1990. p. 34).

É possível afirmar que no nascedouro da catástrofe que se abate sobre o Rio Grande do Sul estão também esses direitos sufocados ou mal-ouvidos pelas autoridades hoje apressadas em se livrar de sua cota de responsabilidade. Que bom termos veículos como os quatro citados, entre outros, para trazer à tona fatos que, para essas autoridades, deveriam estar convenientemente esquecidos. Sobrevivem a duras penas e fazem jornalismo à altura desses duros tempos.

Referências

LEFEBVRE, HENRI et LE GROUPE DE NAVARRENX . Du Contrat de Citoyenneté. Paris: Editions Syllepse et Editions Periscope, 1990.

SILVA, Mariana da Rosa. Tensões entre o alternativo e o convencional: organização e financiamento nas novas experiências de jornalismo no Brasil. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/185627. Acesso em: 28 maio. 2024.

* Jornalista, doutora em Jornalismo, mestre em Geografia e especialista em Educação e Meio Ambiente

Com apuração e checagem, jornalismo mostra ações antiambientais na base do desastre climático no RS

Por Patrícia Kolling*

Nesta segunda-feira, dia 20 de maio, o programa Roda Viva, da TV Cultura, foi transmitido do Theatro São Pedro, em Porto Alegre (RS). O entrevistado foi o governador Eduardo Leite (PSDB) e os entrevistadores um time de jornalistas gaúchos. Conforme a apresentadora Vera Magalhães, a transmissão do programa da capital gaúcha foi para que a bancada de jornalistas fosse formada por pessoas que estão à frente da cobertura jornalística da tragédia no Estado.

Preparando-se para as entrevistas, os jornalistas buscaram informações sobre as legislações ambientais aprovadas no Estado, as previsões de chuva divulgadas antecipadamente e as ações do Governo para evitar tantos danos. Elaboraram perguntas que buscavam identificar responsabilidades pelo acontecido, mostrando que não foi um acidente; e também relacionando as enchentes com as mudanças climáticas.  A jornalista Kelly Matos destacou as enchentes, temporais e ciclones que aconteceram no Estado, do final do ano passado até início deste, e questionou o governador se o estado não poderia ter feito algo, se preparado melhor, para minimizar os efeitos. Os jornalistas também questionaram sobre as mudanças no novo Código Ambiental do RS, aprovado no início do governo de Eduardo Leite, destacando a proteção do Bioma Pampa e a dispensa de autorização ambiental para algumas ações.

O governador Eduardo Leite respondeu às questões trazendo muitos dados e contextualizando situações, dizendo não negar a ciência e os alertas, mas não conseguiu descrever o que efetivamente fez para prevenir tantos prejuízos sociais e econômicos. O foco principal da fala do governador foi mostrar como o Estado está empenhado em auxiliar as pessoas desabrigadas e que ficaram sem moradias e ações para a reconstrução do RS.Muitas perguntas, porém, ficaram sem respostas concretas, como também muitas outras perguntas poderiam ter sido feitas, no sentido de mostrar a responsabilidade do Governo Gaúcho diante do acontecido, como, por exemplo, sobre os investimentos no polo carbonífero de Candiota, tema já analisado neste observatório. O chargista Luciano Veronezi trouxe a crítica e o humor às respostas do governador.

Mas o papel de fiscalizador do poder público do jornalismo não se encerrou com a entrevista do programa Programa Roda Viva. No dia seguinte, 21 de maio, os  jornalistas Amanda Ribeiro, Ethel Rudnitzki e Luiz Fernando Menezes, do site Aos Fatos publicaram  “No Roda Viva, Eduardo Leite desinforma sobre responsabilidade do governo gaúcho e alertas pré-enchentes”. O site checou algumas informações e mostrou que diferente do que o governador disse os institutos meteorológicos haviam previstos altos volumes de chuvas, que tanto estados, como municípios são responsáveis por zelar pelos sistemas de prevenção de desastres, além de mostrar que o novo Código Florestal não define normas para a proteção do Bioma Pampa. Para produzir o material, o site acessou legislações, notas publicadas emitidas pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da UFRGS, reportagens veiculadas na mídia nacional e regional, retomou previsões meteorológicas e entrevistou especialistas.

O jornalista e colunista da Folha de S. Paulo, Bruno Boghossian também analisou criticamente as falas de Eduardo Leite, destacando o desconforto do governador diante das discussões sobre o desastre e ressaltando que ele não poderá se escorar por muito tempo na busca de soluções imediatas, sem a identificação dos culpados.

E os responsáveis já começam a ser apontados pela imprensa e outros setores da sociedade. A Folha de S. Paulo publicou também no dia 21, “Prefeitura de Porto Alegre foi alertada há seis anos sobre risco de falha no sistema contra enchente”. O texto relata que um parecer técnico elaborado por engenheiros municipais, em setembro de 2018, apontava falhas no sistema de bombeamento na região central de Porto Alegre. Em novembro do ano passado outro alerta foi encaminhado a prefeitura, mas até o início das chuvas as melhorias não haviam sido realizadas.

Da mesma forma, que o governador Eduardo Leite, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) foge das suas responsabilidades, classificando como narrativas mentirosas, fake news ou a recortes parciais feitos pela imprensa, informações que estão chegando à sociedade. É importante destacar que há um esforço de apuração séria e responsável, como fez a Folha de S. Paulo e o site Aos Fatos, quando há checagem das informações dadas pelas autoridades e divulgadas nas redes sociais.

Ainda no dia 21, a Carta Capital publicou a notícia “Fachin manda Leite explicar mudança na legislação ambiental do RS” . O texto explica que o Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, pede explicação na mudança da legislação ambiental do estado que deu aval à supressão de vegetação nativa em áreas de proteção permanente.

O assunto já havia sido destacado no  dia 17 de maio, em texto da Folha de S. Paulo, que dizia que a troca de vegetação nativa por soja pode ter agravado as enchentes no Rio Grande do Sul. O texto informa que, entre 1985 e 2022, o Rio Grande do Sul perdeu aproximadamente 3,5 milhões de hectares de vegetação nativa, que corresponde a 22% da cobertura original vegetal existente no estado em 1985. Cientistas apontam que a vegetação diminui a velocidade à qual a enxurrada chega ao leito dos rios; aumenta a quantidade de água infiltrada no solo, o que diminui a quantidade de água disponível para inundações e protege o solo diminuindo a quantidade de sedimentos que assoreiam os rios da região.

No final da entrevista ao Roda Viva, o governador Eduardo Leite, destaca ter se perguntado “por que o Rio Grande do Sul?” Por mais valente e resiliente que seja o povo gaúcho, a resposta à questão está bem mais relacionada a aspectos de negligência com as prioridades ambientais, que começam a ter mais espaço na cobertura jornalística sobre a tragédia das cheias na região.

*Patrícia Kolling, doutora em Comunicação pela UFRGS, docente no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus do Araguaia, integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). E-mail: patikolling@gmail.com.