Clima, condições de trabalho e desafios de jornalistas em coberturas

Imagem: Devido as altas temperaturas, o repórter Nicolas Córdova, da Rádio Grenal, perdeu os sentidos e caiu no chão durante transmissão ao vivo / Reprodução

Por Isabelle Rieger* e Ilza M. Tourinho Girardi**

Recentemente, durante a cobertura do evento South Summit no Cais Embarcadero de Porto Alegre, um repórter da Rádio Grenal desmaiou durante uma transmissão ao vivo, devido ao intenso calor e à ausência de ar-condicionado. Este incidente destaca as precárias condições enfrentadas pelos jornalistas, no exercício da profissão, revelando também a falta de cuidado ou mesmo negligência das autoridades em implementar planos de prevenção e enfrentamento para eventos climáticos extremos.

Porto Alegre estava vivenciando uma onda de calor, fenômeno cada vez mais frequente devido às mudanças climáticas. Em um evento que atrai milhares de pessoas e se autoproclama o maior da América Latina em inovação e empreendedorismo, é inaceitável que não tenham sido providenciadas medidas básicas para mitigar os impactos das altas temperaturas. A falta de ar-condicionado não apenas colocou em risco a saúde e segurança dos participantes, mas também expôs os jornalistas, essenciais para relatar e informar sobre tais eventos.

A segurança e bem-estar dos trabalhadores da mídia devem ser prioridades em todos os eventos, especialmente quando há conhecimento prévio de condições ambientais adversas. A prevenção de riscos deve ser parte integrante do planejamento de eventos, incluindo a provisão de infraestrutura adequada para lidar com condições climáticas extremas. Isso não apenas protege os profissionais envolvidos, mas também garante a qualidade e a continuidade da cobertura jornalística.

O caso do South Summit ressalta a importância de repensar a infraestrutura e o planejamento urbano em Porto Alegre. O Cais Embarcadero, um espaço privatizado na orla do Guaíba, exemplifica uma tendência preocupante de transformar áreas urbanas em locais voltados para o lucro e o entretenimento, em detrimento das necessidades e segurança dos cidadãos. 

A privatização desses espaços muitas vezes prioriza os interesses comerciais e ignora o bem-estar público, resultando em infraestruturas inadequadas pela falta de um olhar atento à prevenção. Durante o evento que prega inovação, houve um desmaio no primeiro dia por conta do calor extremo, e o atraso da hora de abertura no segundo dia foi devido as chuvas que assolaram a cidade. Onde está a inovação em um evento que não pensa no meio ambiente, que está na pautas das discussões em diversos fóruns justamente porque estamos vivendo uma época de emergência climática?

É imperativo que as autoridades municipais e organizadores de eventos assumam a responsabilidade pela segurança e conforto de todos os envolvidos, incluindo jornalistas. Isso requer não apenas a implementação de medidas de prevenção eficazes para lidar com condições climáticas extremas, mas também uma abordagem mais ampla e inclusiva para o planejamento urbano, que priorize as necessidades e interesses de toda a comunidade.

O desmaio ao vivo não é só uma chamada para melhorar as condições de trabalho, mas também para repensar a maneira como planejamos e gerenciamos nossas cidades e eventos. Somente por meio de uma abordagem que entenda a cidade como um bem comum e não como um local para ser vendido é que conseguiremos avançar na pauta ambiental. 

Já que estamos falando das condições de trabalho dos jornalistas em tempos de eventos extremos, podemos ressaltar a importância de os profissionais terem conhecimento sobre o que está acontecendo no mundo e quais as previsões relacionadas ao aumento da temperatura, se os países não agirem imediatamente para conter esse processo. Nesse caso não se trata de precaução, mas de tomar medidas de prevenção e cuidado por parte da prefeitura e organizadores de eventos para permitir que os jornalistas cumpram com seu papel de informar e os cidadãos tenham segurança para acessar tais espaços. Da mesma forma é necessário que as chefias que ficam nas redações pensem na saúde do repórter que vai se submeter a situações de risco.

*Isabelle Rieger é estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

**Ilza Maria Tourinho Girardi é jornalista, professora titular aposentada/UFRGS, professora convidada no PPGCOM/UFRGS e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental CNPq/UFRGS e coordenadora do Observatório do Jornalismo Ambiental/Fabico/UFRGS.

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