A emergencial pauta indígena que interessa sobremaneira aos não indígenas

Imagem: Reprodução da coletiva de imprensa da Apib no ATL

Por Eliege Fante**

Há 18 anos, os povos indígenas se reúnem em Brasília, no mês de abril, com um número cada vez maior de pessoas e de apoiadores. Dia 4 iniciou o Acampamento Terra Livre (ATL) com o tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política” e que deve seguir até o dia 14 deste mês, reunindo cerca de oito mil participantes. Este panorama motiva uma maior dedicação à escuta, mas, parte da imprensa nacional, representada aqui por G1 dia 4 e dia 6, Record dia 4 e SBTNews dia 5 cumpriu o já comum “jornalismo” declaratório, ou seja, reproduziu alguns dizeres de fontes.  

A decisão sobre quais dizeres reproduzir requer tempo para pesquisa e reflexão dos jornalistas. Durante a coletiva de imprensa, no primeiro dia de ATL, as lideranças trouxeram informações portadoras de valores-notícia, apesar da pressão do agronegócio que, através do patrocínio ou outra forma, interfere nas políticas editoriais dos meios de comunicação sobre o que e como é, ou não, publicado. Por exemplo, Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib), destacou na coletiva o “passivo muito grande de territórios a serem reconhecidos e demarcados nas regiões Nordeste, Sudeste, Sul, Centro-Oeste”. Pois, explicou, a maior parte dos 13% de território indígena no Brasil se situa na região Norte, ou seja, no bioma amazônico. Os dados oficiais* sobre este percentual são: 728 terras indígenas, sendo 487 homologadas e reservadas, 124 em identificação, 74 declaradas, 43 identificadas.

No segundo dia do ATL (05/04) uma das publicações que chama a atenção é o vídeo curto feito pela Apib sobre o passivo referido por Sônia: um total de 891 terras indígenas que aguardam providências do governo federal, diante de apenas 408 registradas, ou seja, com o processo demarcatório concluído. O Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil do Conselho Missionário Indigenista (CIMI, 2020) repete este número e apresenta o panorama, do qual extraímos o total de 1299 terras indígenas, sendo centenas com pendências administrativas e, o maior número delas, 536, sem providências por parte do Estado brasileiro. Só no Rio Grande do Sul, são 38 sem providência alguma.

Considerando esses números, a grande delegação indígena do RS no ATL, o crescente número de retomadas pelo estado e, inclusive durante a pandemia da covid-19, sem esquecer as mobilizações e doações periódicas pela sociedade civil para o suporte básico dos povos negligenciados pelo governo federal, existem muitas possibilidades de pautas a serem concretizadas pelo jornalismo de modo a auxiliar o público, que acessa esses conteúdos, sobre o que de fato é “tudo” para a reprodução social e o próprio desenvolvimento econômico no presente e futuro próximo. Resta saber se, a imprensa dona dos principais meios de comunicação no país, nacional e estadual, vai permitir o trabalho dos jornalistas profissionais nas redações. Neste caso, teremos uma semana para observar, até 14 de abril.

*Terras Indígenas no Brasil – https://terrasindigenas.org.br/ Acesso em: 05/04/2022.

**Eliege Fante é jornalista autônoma, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, repórter e editora voluntária na EcoAgência e associada ao Núcleo de Ecojornalistas, o NEJ-RS.

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